Crónica do Migas
Beneath this mask there is more than flesh. Beneath this mask there is an idea, Mr. Creedy, and ideas are bulletproof.

28 setembro 2006

 

England Prevails


A realidade anda constantemente a ultrapassar a ficção. E se há lugar onde isso é especialmente verdade é na velha Albion. Sem querer descambar numa "sofoclética" teoria de conspiração, porque muitas alterações sociais parecem seguir uma lógica transcendente, uma espécie de mão invisível ou um karma com requintes de crueldade inexorável, aqui descrevo alguns factos recentes relativos ao Reino Unido que são de pôr os cabelos em pé.

1) Em 2003, na Inglaterra e no País de Gales, foi abolido o princípio de banir o re-julgamento de alguém que foi considerado inocente em julgamento anterior. Os responsáveis garantem que este novo mecanismo legal só será usado muito esporadicamente quando as provas forem esmagadoras. O princípio de não permitir a chamada double jeopardy surgiu há séculos para impedir acusações persecutórias de desestabilizar completamente a vida de cidadãos. Para já o direito a re-julgamento está limitado a uma única vez e somente a crimes considerados muito graves.

2) Há alguns anos foi criado no Reino Unido o conceito de ASBO. Uma ordem do tribunal contra comportamentos anti-sociais. Estas ordens permitem à polícia prender pessoas indesejáveis que não tenham cometido nenhum crime. Basicamente, comportamentos anti-sociais que, não sendo crime, causem receio ou embaraço a outras pessoas podem ser condenados por imposição de ASBOs aos indesejados. O desrespeito da ordem, esse já é crime. E dá cadeia até cinco anos.

3) Em 2001, depois dos ataques de 11 de Setembro, o governo fez aprovar uma lei que passou a permitir a detenção sem acusação de estrangeiros, pela polícia, por tempo indeterminado. Em 2004, os Law Lords consideraram a lei violadora de princípios básicos de um estado de direito e anularam-na. Como resposta, em 2005, o governo fez aprovar uma lei que permite a mesma detenção sem acusação, por tempo indeterminado, mas apenas sob prisão domiciliária cuja ordem seja dada pelo Ministro do Interior. Estas ordens aplicam-se não só a estrangeiros mas também a cidadãos britânicos.

4) Na mesma lei de 2001, o prazo para prisão sem acusação para cidadãos britânicos aumentou de 14 para 28 dias. O governo tentou aumentar este poder para 90 dias, mas não conseguiu. É intenção do actual Ministro do Interior voltar a tentar aprovar este aumento.

5) Na maioria dos municípios britânicos existe há alguns anos um recolher obrigatório para menores de 16 anos depois das 21:00. Qualquer adolescente menor de 16 que seja encontrado na rua pode ser detido pela polícia de imediato, independentemente do seu comportamento ou de autorização familiar para estar fora de portas (excepto se acompanhado pelos pais).

A tendência "Estado Policial" está visível e é inevitável face à maneira de pensar do actual governo britânico. Nas próprias palavras de Tony Blair (tradução minha):
"A questão não é liberdade individual versus o estado, mas antes qual a abordagem que melhor garante a maior liberdade possível para o maior número de pessoas. Em teoria, os processos tradicionais dos tribunais e as atitudes relativamente às liberdades civis poderiam funcionar. Mas o mundo moderno é diferente do mundo onde estes processos foram concebidos."

Etiquetas: , , ,


27 setembro 2006

 

Se ninguém se lembrar, é porque não aconteceu


O juiz responsável pelas buscas ao jornal 24 Horas ordenou a formatação (ou destruição, não está claro) do disco rígido do computador de um dos jornalistas que esteve na origem do caso do "Envelope 9". Isto apesar de ser público que outros já afirmaram ter cópias do mesmo ficheiro excel. E, por conseguinte, do "gato já ter saído do saco".

E para garantir que o homem não conta nada do que viu, que tal um lobotomiazita? E para nós, que lemos as notícias, que tal uma sessão colectiva de hipnotismo televisivo?

Etiquetas: , ,


25 setembro 2006

 

O Paraíso na Terra


Perante esta citação dos documentos do Compromisso Portugal:
"Uma sã e equilibrada concorrência nos vários mercados e actividades (...) não permite a concentração excessiva de riqueza em poucas mãos, limitando o desequilíbrio entre os mais ricos e os mais pobres."
Vital Moreira comenta:
"Já se sabia que a concorrência é um mecanismo essencial da eficência económica numa economia de mercado. Ficamos agora a saber que também tem efeitos virtuosos sobre a igualdade social. Deve ser por isso que a desigualdade de riqueza é tão pequena nos Estados Unidos!"
É o costume. A esquerda, em tudo o que lhe convém, esquece a diferença entre sintomas e causas, entre absoluto e relativo. Quanta gente nesse verdadeiro e igualitário "paraíso na terra" que é a Coreia do Norte não preferiria ser pobre nos Estados Unidos? E quantos quadros e licenciados da classe média de alguns paises africanos?

Mais ainda: este tipo de crítica indica a cegueira de quem não percebe que estes lugares comuns do anti-americanismo não têm uma base factual que os justifique. É uma "falácia do espantalho", ou do "homem de palha". Assume-se que a desigualdade é necessariamente má, acusa-se os Estados Unidos de terem muita desigualdade, e convenientemente ignora-se os níveis absolutos de desenvolvimento e bem estar (como se existisse relação causal entre desigualdade e pobreza).

Etiquetas: ,


21 setembro 2006

 

Statler and Waldorf*


Acabou agora mesmo um debate entre Maria José Nogueira Pinto e Vitor Ramalho na SIC Notícias. Hilariante espectáculo digno dos Marretas. Cada um desdobrando-se a por defeitos nas ideias avançadas pelo Compromisso Portugal, sempre totalmente de acordo um com o outro. Só que as críticas eram essencialmente sobre o que não foi dito e não pelo que foi dito, que isto de rebater ideias concretas dá trabalho e acarreta riscos...

* os dois velhotes dos Marretas, sempre sentados no camarote.

Etiquetas:


19 setembro 2006

 

Direito de Escolha


Uma das principais razões para defender um estado pequeno e com poderes limitados prende-se com o direito de escolha dos cidadãos. A escolha centralizada distorce a normalidade que adviria das escolhas individuais - se elas fossem possiveis. A concentração de poder de determinadas decisões no estado, além de ineficiente e conducente ao desperdício, é perversa e prejudica objectivamente os cidadãos que teoricamente seriam os beneficiários dessa concentração. Muitos serviços que são fornecidos em quase-exclusividade pelo estado acabam por sê-lo de forma deficiente porque:

a) A centralização causa uma diminuição da qualidade do serviço. A abordagem one-size-fits-all acabo por inevitavelmente servir as pessoas de forma sub-óptima;

b) A concentração de procura de um lado do mercado faz com que aqueles que são fornecidos fora do sistema estatal fiquem muito mais caros (por efeito de escala e/ou rede);

c) Em determinados serviços gera-se uma dinâmica de free-riding que provoca falhas e impede o ajuste adequado entre oferta e procura.

Alguns exemplos eloquentes e muito mediatizados ultimamente: o Serviço Nacional de Saúde, com a questão das maternidades; o sistema educativo, com o encerramento de escolas em zonas remotas; a imposição estatal de parâmetros físicos nos desfiles de moda Cibeles em Madrid; a obrigatoriedade de todos os trabalhadores descontarem para um sistema público de pensões.

1) As Maternidades

A polémica com o encerramento de maternidades pelo país fora nunca se colocaria se existisse liberdade de escolha dos cidadãos relativamente aos hospitais ou centros de saúde, etc, de que seriam clientes (algo bastante diferente de utentes). Mesmo que fosse mantido o princípio de universalidade do SNS, com um "cheque-saúde" ou um seguro público, a possibilidade dos cidadãos escolherem em vez de serem conduzidos como carneiros levaria a uma mais eficiente alocação do capital investido, desde que as operações seguissem critérios de viabilidade e não de megalomania centralista. Se realmente existisse procura que justificasse uma clínica ou maternidade em Mirandela, Elvas ou onde seja, haveria sempre quem quisesse fornecer esse serviço.

2) As Escolas

O encerramento de escolas pelo interior do país onde o número de alunos é, pelos padrões definidos pelo estado, demasiado baixo, é outro exemplo de distorção do mercado causada pela concentração de poder de decisão. Apesar de exemplos como este, a maioria dos cidadãos não tem alternativa ao sistema público e fica à mercê daquilo que o estado lhe proporciona. É verdade que existem questões de qualidade envolvidas e que escolas maiores podem potencialmente proporcionar um melhor ensino. Mas essa devia ser uma escolha dos pais de cada criança, desde que haja quem queira prestar o serviço. A concentração de oferta e subsequente captura da procura no sistema estatal impede o aparecimento de alternativas privadas em regiões com menos densidade populacional. Quem fica insatisfeito, sujeita-se a isto.

3) As Top Models

O episódio da intervenção do governo regional de Madrid que impôs regras aos atributos físicos das modelos no show de moda em Cibeles é outro exemplo onde o peso (no pun intended) estatal na procura é nefasto. Se uma entidade privada tomásse tal decisão, poderíamos achar bem ou mal mas reconheceríamos a sua legitimidade em fazê-lo. Que o estado o faça, além de anti-democrático e anti-liberal, mostra o perigo para determinados grupos de cidadãos (neste caso modelos magras que fujam muito aos parâmetros normais de "massa corporal") de que a escolha esteja concentrada em vez de distribuída. Assim se entende porque é que não é boa ideia a subsídio-dependência.

4) As Pensões

A Segurança Social em Portugal, com os seus descontos obrigatórios e sem alternativa, acaba por ser tudo menos justa e não dá nenhuma "segurança" a ninguém. Independentemente da insustentabilidade do sistema e da roubalheira a que todos estamos sujeitos, o princípio em si é injusto e ineficiente. Os descontos são maioritariamente consumidos em vez de investidos. E mesmo os fundos existentes são capitalizados com uma política de investimentos one-size-fits-all que não dá resposta às necessidades dos futuros pensionistas. O perfil de risco das pessoas é diferente. Mesmo cada indivíduo muda de perfil de risco ao longo da vida. Porque é que um jovem há de ter a mesma política de investimento de alguém perto da idade de reforma?

Etiquetas: ,


15 setembro 2006

 

Scary Movie


Que pensar de um país onde:

1) O Ministério da Saúde tem um orçamento anual de cerca de 900 euros per capita, o que é mais ou menos o triplo do que custa um seguro de saúde médio. E no fim as pessoas esperam meses a fio por uma operação ou mesmo uma consulta.

2) O governo gasta em educação cerca de 2800 euros por ano por cada habitante com menos de 24 anos. E ainda a maior parte das crianças não aprende a um nível que lhes permita almejar uma qualificação profissional conducente a uma vida melhor que a dos seus pais.

3) Os serviços de finanças gastam um euro por cada 3,3 euros cobrados em contribuições e impostos.

4) A agricultura tem um peso de cerca de 2,4% no PIB e o Ministério da Agricultura tem um orçamento que equivale a cerca de 2,1% do PIB.

Num cinema (muito) perto de si.

Etiquetas: , ,


14 setembro 2006

 

Jornalismo de Causas


Grande destaque dado ao filme de Al Gore no DN de hoje: A hora decisiva no combate ao aquecimento global. Com direito a eloquentes passagens como (negritos meus):
"[A ciência] conseguiu estabelecer alguns factos fundamentais, hoje incontestados: as alterações climáticas são uma realidade, já estão a acontecer e têm origem na actividade humana."
Ficamos ainda a saber que o filme é "muito popular" nos EUA e que um dos seus trunfos "é o seu rigor científico". Gosto especialmente do aviso no final:
"A análise crítica do filme poderá ser lida amanhã no suplemento 6ª."
Pago para ver... Por comparação, temos no Diário Digital um ininteligível artigo com parágrafos que aparentemente se contradizem entre si, mas onde consegue passar a afirmação (negritos meus):
"(...) os programas informáticos que simulam os efeitos dos gases com efeito de estufa no aquecimento climático mostram agora que o volume dos gelos árcticos está a diminuir mais rapidamente no Inverno do que no Verão."
Para quê observar a realidade quando podemos usar computadores para nos dizerem como as coisas realmente são? Já estou a ver a cena: Duas pessoas dentro de um carro à beira de um precipício. Diz uma para o outra, "Vá avança! O GPS mostra claramente que aqui uma ponte."

Etiquetas: , ,


 

Cheque Solidário


No seguimento deste post do Henrique Raposo no blog da Revista Atlântico, e com o objectivo de tornar mais transparentes os mecanismos de exploração, mmm, quer dizer, solidariedade, proponho que os pagamentos da segurança social passem a vir acompanhados da seguinte frase:
"Este pagamento tornado possível graças à generosidade e solidariedade de (1*) ______________, obtida sem recurso por intermédio das leis da república."

*Este campo deverá ser preenchido com o nome do(a) filho(a), neto(a), ou na falta destes, do(a) filho(a), neto(a) do vizinho do lado.
Àqueles que ficarem indignados com a crueza da sugestão, tenho a dizer que essa indignação se justifica, embora seja dirigida ao destinatário errado. Podem ver aqui contas que sugerem que andamos todos a ser roubados. Quanto à ideia de que é possível passar impunemente obrigações para as gerações futuras, que não são tidas nem achadas na decisão, relembro um conjunto de revolucionários que se juntou à volta da ideia de "No taxation without representation".

Etiquetas:


12 setembro 2006

 

Terrorismo e Incompetência II


Mário Soares ontem no Prós e Contras sugeriu que se devia "negociar" com os terroristas da al-Qaeda. Entender as suas "reivindicações" e "razões de queixa". Fico com várias dúvidas:

1) Como é que se negoceia com alguém que nos quer causar o maior número possível de mortos, estando para tal disposto a morrer no processo? Entregamos-lhes umas poucas vítimas sacrificiais por ano para saciar a sua sede de sangue em troca de não fazerem ataques no nosso território? Quem serão os voluntários?

2) Como é que se negoceia com uma entidade fantasma sem qualquer legitimidade (democrática, dentro de qualquer variante do direito, ou sequer de facto) e cuja estrutura é incontrolável?

3) Quando os outros vissem que bastava matar uns milhares de inocentes para conseguir o quer que seja, o que impediria qualquer outro conjunto de crack-pots assassinos de enveredar pelo mesmo caminho?

4) Será que a culpa do 11 de Novembro é mesmo do Truman?

Etiquetas: , ,


11 setembro 2006

 

Terrorismo e Incompetência


Cinco anos desde os atentados de 11 de Setembro. Uma agressão injustificada, não-provocada e que mostrou o ponto ao qual fanáticos estão dispostos a ir para saciar o seu ódio à vida e à realidade.

No inevitável rescaldo dos cinco anos sobre o acontecimento, muitas opiniões são emitidas, à esquerda e à direita (se é que podemos fazer esta distinção), que cometem o erro de mandar coisas diferentes para dentro do mesmo saco. Quem perde é a realidade. E quando isso acontece quem perde também são as pessoas que gostam da vida e da liberdade.

A guerra no Iraque não é a prova de que os Estados Unidos "mereciam" ou "provocaram" os atentados de há cinco anos. Isso é mais que um absurdo: é abominável. De igual modo, o facto dos atentados terem sido infâmes não justifica que se branqueie a incompetência da aliança que invadiu o Iraque, em particular, e das lideranças ocidentais, em geral.

Para mim, entre as acções que foram tomadas pelos estados ocidentais após 11 de Setembro de 2001, existem umas que foram correctas e outras incorrectas. E parece-me elementar honestidade intelectual fazer esta distinção. Mas de um modo geral, julgo que o balanço é negativo, mesmo tendo em conta que não houve mais nenhum atentado nos EUA desde então, o que indica algum sucesso. Divido este balanço negativo em três ideias principais:

1) O Ocidente está mais fragilizado enquanto civilização. Os terroristas conseguiram incutir uma cultura de medo e uma obcessão securitária que tolhe as nossas liberadades e acaba por contribuir para acelerar o nosso declínio para o estatismo. De igual modo, as revelações sobre tortura, detenções fora-da-lei e outras coisas tão não-ocidentais fizeram a nossa civilização perder o moral high ground. Tanto internamente, o que afecta a auto-estima das pessoas e, por conseguinte a sua confiança no seu sistema político, como externamente, diminuindo a nossa capacidade de influenciar outros povos no sentido de nos apoiarem na luta contra os terroristas.

2) O mundo está menos seguro. A ideia, atractiva enquanto rallying call, de que "ou estão connosco ou estão com os terroristas", acabou por efectivamente empurrar muitos moderados para o lado dos terroristas. Pequenas gaffes como definir a plenamente justificada invasão do Afeganistão como uma "cruzada" e grandes asneiras como a invasão do Iraque (onde em muito pouco tempo se viu que não havia armas de destruição maciça nenhumas, embora só seja possível dizer isto hoje com o privilégio de poder olhar para o passado) serviram para convencer alguns muçulmanos que a ideia da al-Qaeda de que o Ocidente pretendia subjugar o Islão talvez fosse verdade. Isto levou a um aumento do anti-americanismo e da anti-democracia. No fundo, tornou o radicalismo mais aceitável do que era antes aos olhos de muitos moderados (e especialmente de imigrantes inadaptados).

3) O equilíbrio estratégico no Médio-Oriente está comprometido. A incompetência de Rumsfeld e dos seus comandantes militares no Iraque esvaziou o estado que servia de tampão à influência xiita e iraniana. Este efeito, conjugado com o resultado das acções de Israel no Líbano, que apesar de terem reduzido a capacidade militar do Hezbollah, aumentaram a sua influência ideológica, contribui para um aumento da influência do Irão e dos seus líderes autocráticos. Quanto mais não seja, pelo menos internamente, pois os chamados reformadores desapareceram. O efeito secundário da aparente instabilidade política em Israel, que resulta dos recentes ataques ao Hezbollah, também contribui para este "inchar do peito" iraniano.

A verdade é que a própria ideia de "guerra" contra o terrorismo padece de um problema conceptual. Combater um inimigo elusivo e semi-invisível é inglório. A vitória é praticamente inatingível enquanto existirem lunáticos a monte que reclamam a herança da organização terrorista. Mas quando essa "guerra" aparenta fomentar o aparecimento de mais lunáticos em vez de diminuir as suas hostes, o problema ainda é mais evidente.

Etiquetas:


06 setembro 2006

 

As Múltiplas Faces do Mal II


Muito interessante artigo de Alan Reynolds no Cato Institute (publicado originalmente no Washington Times), a propósito do suposto "fascismo islâmico": Witch Doctors and Thugs.

Como já escrevi antes, vejo vários problemas conceptuais na relação entre islamismo e fascismo, no entanto o argumento de Reynolds dá alguma food for thought no que respeita a algumas tendências de estados islâmicos radicais em aumentarem os seus aspectos mais totalitários. Nomeadamente o culto da personalidade do lider e a fusão entre a repressão estatista e o uso da religião como instrumento de domínio dos indivíduos.

Mas ao falar de estatismo e totalitarismo, Reynolds vem mais uma vez apontar uma incongruência da dicotomia esquerda-direita que confirma o que escrevi na semana passada e que volta a debate hoje no seguimento do post do André Abrantes Amaral n'O Insurgente (ver os comentários do LAS e do LA-C). Escreveu Reynolds:

Fascism is a collectivist system in which some megalomanical gang leader such as Mussolini, Hitler or "Papa Doc" Duvalier seizes totalitarian political power for life and then uses raw force to steal property and to murder and imprison people at will. Communism, by contrast, is a collectivist system in which some megalomanical gang leader like Josef Stalin, Mao Tse-tung, Pol Pot, Nicolae Ceausescu or Fidel Castro seizes totalitarian political power for life and then uses raw force to steal property and to murder and imprison people at will.

Fascist dictators usually place gigantic pictures and statues of themselves on every major street corner. So do communist dictators. And so do theocrats who aspire to be fascist dictators, such as Sheik Hassan Nasrallah of Hezbollah (the "Party of God") and Osama bin Laden.

(...)

Communist dictatorships are allegedly so entirely different from fascist dictatorships that our schoolchildren have long been indoctrinated to categorize communist gang leaders as being "the left" as opposed to fascist gang leaders on "the right." But this left-right dichotomy describes only the rhetorical rationale for statism, not meaningful differences. Labels aside, it is about conquest and power.

Those claiming to be dictators on behalf of "The People" are called communist or socialist "leaders" -- as in the "Democratic Peoples Republic of Korea" or the "Great Socialist People's Libyan Arab Jamahiriya." Those claiming to be dictators on behalf of "The Nation" are called fascists.

Conclusão: Se vamos insistir em localizar ideias políticas num eixo unidimensional, ao menos coloquemos coisas realmente diferentes em cada um dos extremos...

Etiquetas:


04 setembro 2006

 

Jornalismo ou Propaganda?


No Diário Digital, ficamos a saber que:
O economista Eugénio Rosa estimou esta segunda-feira que a resolução da situação do chamado regime dos trabalhadores independentes e a eliminação dos «falsos recibos verdes» determinaria uma receita para a Segurança Social de 470 milhões de euros por ano.
E que:
Esta é uma das sete medidas que, de acordo com um estudo de Eugénio Rosa, hoje divulgado, garantiriam a sustentabilidade da Segurança Social, sem reduzir o valor das pensões de reforma. As medidas propostas pelo economista, entre as quais a uniformização das taxas contributivas, o combate mais eficaz à fraude e evasão e a criação de uma taxa sobre o valor acrescentado líquido a ser paga pelas empresas, determinariam, no seu conjunto, uma receita estimada de 4,4 mil milhões de euros por ano.
O relativamente extenso artigo do DD continua a explicar as tais medidas e o fantástico impacto que estas teriam a resolver todos os problemas da Segurança Social, citanto as conclusões do economista Eugénio Rosa. Em lado algum alvitra-se sequer a possibilidade de que um aumento nos custos de produção das empresas de quase 3% do PIB poderia levar a um aumento do desemprego. Nem no artigo, nem, presume-se, no tal estudo.

Mais para o final do artigo lá acaba por aparecer a referência que Eugénio Rosa foi deputado pelo PCP. O que o artigo não refere, é que o ex-deputado é economista da CGTP, onde será, aparentemente, responsável por um "gabinete de estudos". Presume-se que deve ter sido deste "gabinete" que saiu o "estudo".

Etiquetas: , , ,


 

Lapso Freudiano (?)


Joana Amaral Dias, no DN de hoje, escreve sobre o double standard usado nos media quando se fala de mulheres na política, com inúmeros comentários às suas "obrigações familiares". Tem razão.

Interessantes são os exemplos que dá quando brinca com a aplicação do mesmo tipo de comentários a políticos homens. No meio de vários nomes, todos chefes de estado ou líderes de executivos, aparecem Marques Mendes e Bin Laden. O primeiro passa, apesar de ser um outlier, pois é sem dúvida político e líder da oposição. Já Bin Laden... Será que JAD coloca no mesmo patamar de legitimidade "de poder" um chefe de estado democraticamente eleito (ignoremos a referência a Fidel) e o líder de uma organização clandestina e terrorista?

Etiquetas: ,


02 setembro 2006

 

Lista de Não-Direitos


(Traduzido e adaptado do original de Lewis W. Napper, "Bill of No Rights")

Nós, os sensatos entre o povo dos Estados Unidos, numa tentativa de ajudarmos toda a gente a entender-se, recuperarmos um semblante de justiça, evitarmos mais revoltas, mantermos a nação segura, promovermos comportamentos positivos e garantirmos a benção de uma liberdade sem dívidas para nós próprios e para os nossos netos e bisnetos, aqui tentamos novamente ordenar e estabelecer algumas linhas mestras de senso comum para os permanentemente queixosos, complexados, alienados e outros bébés chorões esquerdistas.

Consideramos estas verdades evidentes em si mesmas, que muitíssimas pessoas ficaram confundidas com a Lista de Direitos, e que são tão lerdas que precisam de uma Lista de Não-Direitos.

ARTIGO I

Ninguém tem o direito a um carro novo, TV com ecrã de plasma ou qualquer outra forma de riqueza. Felicitações para quem conseguir adquirir estas coisas legalmente, mas aqui não há garantias para ninguém.

ARTIGO II

Ninguém tem o direito de nunca ser ofendido. Este país é baseado na liberdade, e isso significa liberdade para toda a gente - não só para alguns! Quem quiser pode sair da sala, mudar de canal, exprimir uma opinião diferente, etc., mas o mundo está cheio de idiotas e provavelmente sempre estará.

ARTIGO III

Ninguém tem o direito que não lhe aconteça qualquer espécie de mal. Quem espetar uma chave de parafusos no olho tem de aprender a ter mais cuidado; não pode esperar que o fabricante da chave de parafusos o torne rico a ele e à família.

ARTIGO IV

Ninguém tem o direito a comida e à habitação. Nós somos das pessoas mais generosas que há e ajudaremos com prazer qualquer um que precise de ajuda, mas estamos a ficar rapidamente fartos de subsidiar uma geração de preguiçosos profissionais que não consegue fazer mais nada do que criar outra geração de preguiçosos profissionais.

ARTIGO V

Ninguém tem o direito a cuidados de saúde grátis. Era porreiro, mas tendo em conta a qualidade de outros serviços prestados pelo estado, não parece nada boa ideia.

ARTIGO VI

Ninguém tem o direito de maltratar fisicamente outras pessoas. Quem raptar, violar, aleijar intencionalmente ou matar alguém, não deverá ficar surpreendido quando alguns de nós se juntarem para lhe limparmos o sebo.

ARTIGO VII

Ninguém tem o direito às posses dos outros. Quem roubar, aldrabar ou retirar coercivamente os bens e serviços de outros cidadãos, não deverá ficar surpreendido quando for parar atrás das grades num sítio onde também não terá um ecrã de plasma ou uma vida sossegada.

ARTIGO VIII

Ninguém tem o direito de exigir que os nossos filhos arrisquem as suas vidas em guerras no estrangeiro para lhe aliviar a consciência. Nós detestamos governos tirânicos e não faremos nada para impedir quem quiser ir lutar contra eles, contudo, não gostamos de ser paizinhos do mundo inteiro e não queremos gastar o nosso tempo a batalhar contra um qualquer tirano de uniforme militar e chapéu ridículo.

ARTIGO IX

Ninguém tem o direito a um emprego. Todos queremos que as pessoas tenham um; e até ajudaremos quem passar por dificuldades. No entanto, o que esperamos é que cada um tire partido das oportunidades que criamos na educação e formação profissional para fazer algo de útil.

ARTIGO X

Ninguém tem o direito à felicidade. Tem é o direito a tentar alcançar a felicidade - o que, diga-se de passagem, seria muito mais fácil se todos estivéssemos livres da abundância de leis idiotas criadas por aqueles que estão confundidos pela Lista de Direitos.

Etiquetas: ,