Crónica do Migas
Beneath this mask there is more than flesh. Beneath this mask there is an idea, Mr. Creedy, and ideas are bulletproof.

16 agosto 2006

 

As Múltiplas Faces do Mal


Interessantes os mais recentes posts de Patrícia Lança no blog da Causa Liberal. Em especial este e este, que explicam várias facetas do anti-semitismo. Existem outros logo a seguir, mas já apenas servem para tentar reforçar a ideia de que a ideologia dos terroristas islâmicos é próxima do fascismo e por isso constitui um "islamofascismo".

Não concordo com esta associação. Parece-me que contribui pouco para perceber as origens to radicalismo, ou fundamentalismo, islâmico e acaba por ajudar a confundir o assunto ao misturar o fascismo na caldeirada. O mal tem várias faces, e misturá-las não serve nenhum propósito. Pelo contrário, ao tentar associar o fascismo ao radicalismo islâmico, para reforçar a ideia de que este é uma instância do mal, corre-se o risco de desculpabilizar os radicais quando se tornarem evidentes as fragilidades da associação fascismo-islamismo.

Ao longo dos últimos cem anos várias correntes totalitárias, colectivistas e iliberais devassaram o mundo e levaram a que se cometessem as mais inacreditáveis barbáries a uma escala nunca antes vista. Na sua essência, a única coisa que têm todas em comum é um total desrespeito pelos indivíduos e pela sua vida, colocando uma qualquer ideia de colectivo como valor máximo; este colectivo pode materializar-se como um estado, uma raça, uma classe, uma religião, etc. De resto, são muitos os detalhes que separam estas várias correntes. O nazismo, apesar de socialista, não é comunista. O fascismo (italiano), não tinha aspectos raciais até à aliança de conveniência com os alemães. Os tiranos terceiro-mundistas , à "esquerda" (leia-se pró-URSS) ou à "direita" (leia-se pró-EUA), eram (alguns ainda são) em alguns casos nacionalistas, noutros racistas, noutros socialistas, conforme o caso.

O radicalismo islâmico é demasiado heterógeneo para se poder definir um "islamofascismo". O Irão que se vê como porta-estandarte de uma revolução islâmica global é xiita, pelo que não pode aspirar a representar, no limite, mais de uns 10% do mundo islâmico. A Irmandade Muçulmana, fundada no Egipto, é sunita, tal como são o Hamas, os Taliban e a Al-Qaida. A desconfiança mútua entre xiitas e sunitas é demasiado grande. As matanças sectárias entre as duas partes são muito maiores em escala do que as mortes que os radicais infligiram a não-muçulmanos em ataques terroristas (mesmo incluindo o 11 de Setembro).

Aqui ficam mais algumas notas que julgo mostrarem que não faz sentido falar em "islamofascismo":

1) Os regimes fascistas preconizam uma organização corporativa das sociedades. O modelo dos radicais islâmicos é em grande medida tribal. Os seus líderes estão mais preocupados em preservar uma série de costumes sociais ultrapassados do que em reorganizar o tecido social e produtivo.

2) O fascismo está associado normalmente a características nacionais e a uma noção de estado que se confunde com a própria nação/povo, existindo também uma homogeneidade étnica. O radicalismo islâmico é um movimento sem fronteiras, tem uma base mais religiosa que política. As etnias muçulmanas são muitas e a maior, a árabe, não chega sequer a um terço do total. Talvez até se pareça mais com o comunismo, no sentido de que é internacional, almejando a conversão dos outros ao Islão.

3) A estratégia de poder do radicalismo islâmico é quase anárquica. As suas acções são puramente subversivas. Mais que estabelecer o Califado e criar um "nova ordem" (o objectivo oficial), parecem mais interessados em semear o caos. Nesse sentido, a vitória para eles não será na verdade alcançar o Califado, mas antes obrigarem o ocidente a abandonar a democracia liberal ao destruirem a confiança da população ocidental nas instituições democráticas.

O terrorismo islâmico já é mau por si mesmo. Não precisamos de lhe chamar fascista para reforçar a nossa condenação.

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