Crónica do Migas
Beneath this mask there is more than flesh. Beneath this mask there is an idea, Mr. Creedy, and ideas are bulletproof.

11 setembro 2006

 

Terrorismo e Incompetência


Cinco anos desde os atentados de 11 de Setembro. Uma agressão injustificada, não-provocada e que mostrou o ponto ao qual fanáticos estão dispostos a ir para saciar o seu ódio à vida e à realidade.

No inevitável rescaldo dos cinco anos sobre o acontecimento, muitas opiniões são emitidas, à esquerda e à direita (se é que podemos fazer esta distinção), que cometem o erro de mandar coisas diferentes para dentro do mesmo saco. Quem perde é a realidade. E quando isso acontece quem perde também são as pessoas que gostam da vida e da liberdade.

A guerra no Iraque não é a prova de que os Estados Unidos "mereciam" ou "provocaram" os atentados de há cinco anos. Isso é mais que um absurdo: é abominável. De igual modo, o facto dos atentados terem sido infâmes não justifica que se branqueie a incompetência da aliança que invadiu o Iraque, em particular, e das lideranças ocidentais, em geral.

Para mim, entre as acções que foram tomadas pelos estados ocidentais após 11 de Setembro de 2001, existem umas que foram correctas e outras incorrectas. E parece-me elementar honestidade intelectual fazer esta distinção. Mas de um modo geral, julgo que o balanço é negativo, mesmo tendo em conta que não houve mais nenhum atentado nos EUA desde então, o que indica algum sucesso. Divido este balanço negativo em três ideias principais:

1) O Ocidente está mais fragilizado enquanto civilização. Os terroristas conseguiram incutir uma cultura de medo e uma obcessão securitária que tolhe as nossas liberadades e acaba por contribuir para acelerar o nosso declínio para o estatismo. De igual modo, as revelações sobre tortura, detenções fora-da-lei e outras coisas tão não-ocidentais fizeram a nossa civilização perder o moral high ground. Tanto internamente, o que afecta a auto-estima das pessoas e, por conseguinte a sua confiança no seu sistema político, como externamente, diminuindo a nossa capacidade de influenciar outros povos no sentido de nos apoiarem na luta contra os terroristas.

2) O mundo está menos seguro. A ideia, atractiva enquanto rallying call, de que "ou estão connosco ou estão com os terroristas", acabou por efectivamente empurrar muitos moderados para o lado dos terroristas. Pequenas gaffes como definir a plenamente justificada invasão do Afeganistão como uma "cruzada" e grandes asneiras como a invasão do Iraque (onde em muito pouco tempo se viu que não havia armas de destruição maciça nenhumas, embora só seja possível dizer isto hoje com o privilégio de poder olhar para o passado) serviram para convencer alguns muçulmanos que a ideia da al-Qaeda de que o Ocidente pretendia subjugar o Islão talvez fosse verdade. Isto levou a um aumento do anti-americanismo e da anti-democracia. No fundo, tornou o radicalismo mais aceitável do que era antes aos olhos de muitos moderados (e especialmente de imigrantes inadaptados).

3) O equilíbrio estratégico no Médio-Oriente está comprometido. A incompetência de Rumsfeld e dos seus comandantes militares no Iraque esvaziou o estado que servia de tampão à influência xiita e iraniana. Este efeito, conjugado com o resultado das acções de Israel no Líbano, que apesar de terem reduzido a capacidade militar do Hezbollah, aumentaram a sua influência ideológica, contribui para um aumento da influência do Irão e dos seus líderes autocráticos. Quanto mais não seja, pelo menos internamente, pois os chamados reformadores desapareceram. O efeito secundário da aparente instabilidade política em Israel, que resulta dos recentes ataques ao Hezbollah, também contribui para este "inchar do peito" iraniano.

A verdade é que a própria ideia de "guerra" contra o terrorismo padece de um problema conceptual. Combater um inimigo elusivo e semi-invisível é inglório. A vitória é praticamente inatingível enquanto existirem lunáticos a monte que reclamam a herança da organização terrorista. Mas quando essa "guerra" aparenta fomentar o aparecimento de mais lunáticos em vez de diminuir as suas hostes, o problema ainda é mais evidente.

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