Crónica do Migas
Beneath this mask there is more than flesh. Beneath this mask there is an idea, Mr. Creedy, and ideas are bulletproof.

30 abril 2007

 

Distopia Regressiva


(também postado n'O Insurgente)

Anthem
foi o segundo livro de Ayn Rand, publicado em Inglaterra no ano de 1938, depois de Rand não ter conseguido um editor nos EUA (facto que mostra bem o ambiente cultural americano da altura). Colocado entre We The Living (sobre o qual escrevi aqui) e os muito mais conhecidos The Fountainhead e Atlas Shrugged, Anthem tem a característica curiosa de estar, por lapso do editor, no domínio público nos Estados Unidos, que na altura não eram signatários da Convenção de Berna sobre copyrights. Por esta razão, está disponível livremente na internet.

Em termos filosóficos, Anthem é uma espécie de prelúdio às ideias subjacentes aos livros seguintes de Rand. Em termos literários é uma peça muito interessante, tanto ao nível da forma, com uma linguagem que se aproxima de um "poema em prosa", como na sua singulardade: É a única obra do género - ficção futurista que representa sociedades distópicas - e do periodo - antes de ser conhecida a verdadeira extensão da falência dos sistemas socialistas - onde o futuro é mostrado como uma distopia regressiva, civilizacionalmente decadente, consequência directa das ideias dominantes na sociedade nele descrita. O mais conhecido Mil Novecentos e Oitenta e Quatro de George Orwell, escrito dez anos mais tarde, apresenta uma distopia progressiva (um futuro cientificamente avançado); tal como Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, ou Nós, de Ievgueni Zamiatine.

Podemos dizer que a opção de Rand por esta evolução incomum é, em primeiro lugar, visionária e, em segundo, solidamente fundamentada nas ideias por ela defendidas. Estas ideias são, resumidamente, que o mal é impotente e que a criatividade individual é a fonte do progresso da humanidade.

O mal é impotente porque é, pela sua natureza, parasitário. A força do mal só é conseguida à custa da capacidade produtiva do bem e da cooperação forçada de indivíduos inocentes. Contudo, a prazo as pessoas deixam de dar o seu melhor sob coação. Rand não chegou a assistir ao colapso final da União Soviética, mas teria certamente reservado um "I told you so" para quem a criticou, cinquenta anos antes, por "não perceber" como a gestão científica da economia soviética haveria de resolver todos os problemas do mundo.

A criatividade individual é a fonte do progresso da humanidade porque são indivíduos livres e independentes que produzem saltos qualitativos na evolução do conhecimento; saltos esses que permitem a produção de utensílios, produtos e ideias que aumentam o nível de vida e o bem estar das pessoas. Não é nenhum indivíduo em particular que domina todo o conhecimento; todos "bebem" nas ideias uns dos outros para derivar os seus contributos. No entanto, são esses saltos individuais, essencialmente anárquicos na medida em que não seguem nenhum plano, que permitem o progresso; qualquer tentativa de planear centralmente o progresso acaba por secar a criatividade individual, levando a um colapso regressivo.

Etiquetas: ,


25 abril 2007

 

Fallen Heroes


«I never meet the men whose work I love. Their work means too much to me. I don't want the men to spoil it. They usually do. They're an anticlimax to their own talent.» - Gail Wynand, The Fountainhead, por Ayn Rand
Quanto maior o pedestal em que colocamos o nossos heróis, maior a decepção com a sua (geralmente) inevitável queda. A culpa acaba por ser mais nossa do que deles. Fomos nós que erigimos o pedestal. E ninguém é perfeito.

Etiquetas: ,


 

Hey, it worked!


Hoje de manhã, ao aceder ao sítio de cinema do Sapo, apareceu-me isto:



:-) Estou mesmo a ver: «Olha mãe! Sem mãos e sem rede! Ó pra mim a instalar software num servidor em produção. Num feriado. Cool.»

Etiquetas:


24 abril 2007

 

Dark Eminence


(também postado n'O Insurgente)

Nos últimos dias, a escolha de Pina Moura para a administração da Media Capital, pelos seus proprietários (Prisa, grupo espanhol com ligações aos socialistas lá do burgo), fez correr alguma tinta. O PSD gritou "lobo" e vários comentadores criticaram, por variadas razões. Subitamente, a esquerda viu a luz. "É o mercado a funcionar", disseram. A defesa do mercado é sempre bem-vinda, mesmo quando cheira a hipocrisia. Para que não restem dúvidas, começo por deixar bem clara a minha posição:

1.1) Os accionistas de uma empresa devem ser livres de escolher quem entendem para trabalhar nela; especialmente a equipa de gestão, pois é esta que responde directamente perante eles. A comunicação social não deve ser diferente. Um jornal ou uma televisão são empresas como as outras, mesmo que tenham algum "poder" de influência sobre a "opinião pública".

1.2) É dez vezes preferível que um determinado meio ou grupo de comunicação assuma publicamente as suas inclinações políticas do que finja uma inexistente imparcialidade. As declarações de Pina Moura ao Expresso são por isso de uma franqueza pouco habitual; devem ser bem recebidas, em vez de causarem falsas escandalizações.

Dito isto, não deixa de ser perfeitamente legítimo apontar alguns disparates oriundos da área do PS sobre este assunto. Em primeiro lugar porque tem piada; em segundo porque se não o fizermos eles começam a achar que podem safar-se mesmo quando fazem o que não devem. Eis algumas ideias sobre o tema:

2.1) As leis em vigor para a comunicação social são o resultado de anos de acção legislativa do PSD e do PS. Esta leis, incluindo a da ERC, criada pelo actual governo socialista, incluem várias provisões que pretendem garantir a independência e imparcialidade da informação. Existem sanções previstas na lei para incumprimento. Se qualquer empresa tem fins políticos, como afirma Pina Moura, não seria de eliminar ou clarificar estas provisões na legislação?

2.2) A comparação, feita por Vital Moreira, Pina Moura e pela própria Prisa, com a situação do grupo de Francisco Balsemão é risível. O Expresso foi fundado em 1973, antes de sequer existir PSD. Balsemão não exerce qualquer cargo político executivo desde 1983. A independência editorial deste grupo, relativamente ao seu principal accionista e presidente, é razoável, desde o Expresso, que nunca foi de fazer fretes ao PSD, até à SIC, onde com igual facilidade se faz a cama a Santana Lopes ou a folha a Sócrates. Poderá uma TVI com um "cardeal republicano, laico e socialista" dizer o mesmo?

2.3) Cumprindo algumas formalidades básicas, qualquer um pode criar um jornal. O mesmo não se passa no que toca a uma rádio e, especialmente, um canal de televisão. Estas entidades dependem de atribuição por parte do estado de uma licença que, por inerência, é um bem escasso. Face às limitações à concorrência que este regime de propriedade industrial impõe ao negócio, não seria de reconsiderar a legislação em vigor para ela ficar mais de acordo com as novas inclinações laissez-faire dos socialistas?

2.4) Quando o Helder referiu que as empresas têm como missão dar lucro aos seus accionistas, em resposta à afirmação de Pina Moura de que todas as empresas têm objectivos políticos, houve quem argumentásse que esses objectivos políticos são tão legítimos como o lucro. Sim. Mas como não há almoços grátis, não será de perguntar onde irão os accionistas da Prisa buscar o seu retorno se não é aos cash-flows da Media Capital?

Etiquetas: , ,


 

Tortura nas prisões portuguesas


No Sol [negritos do próprio jornal]: Ministra da Cultura promove leitura em estabelecimento prisional
O objectivo de «promover o acesso ao Livro nos chamados contextos não convencionais de Leitura» leva a ministra da Cultura ao Estabelecimento Prisional de Tires para um encontro com as reclusas, hoje, Dia Mundial da Leitura. Acompanham-na nesta diligência, entre as 15h00 e as 16h30, o secretário de estado adjunto e da Justiça, José Conde Rodrigues, e a escritora Maria Teresa, que «irá falar sobre a sua obra e o prazer da escrita e da leitura».

Etiquetas:


22 abril 2007

 

Além de professor, também é comediante


Genial entrevista, no DN de hoje, ao misterioso professor do Senhor Engenheiro José Sócrates:
«Acho que estamos a assistir a uma tentativa de golpe de Estado, através da comunicação social.

(...)

O director do Público, José Manuel Fernandes, disse, na SIC, que já corria o boato de que o jornal estaria de algum modo a cumprir determinações dos seus accionistas, por causa da OPA da PT. Foi ele que disse, não fui eu...

(...)

Eu era uma referência do PS em Lisboa. Tínhamos acabado de ganhar a concelhia. Foi no Altis que fui apresentado a Armando Vara. Ele já estava no Governo.

(...)

Em 1995 eu tinha uma carreira política. Toda a gente falava de mim. Eu era a estrela emergente do PS em Lisboa. Um putativo candidato a ministro e não a director-geral. É natural que Armando Vara, quando precisou de um engenheiro, se tenha lembrado de mim.»

Etiquetas: ,


 

A Espiral Descendente


(também postado n'O Insurgente)

Como já escrevi antes, “grandes estadistas” não é coisa que aprecie. Mas a velocidade a que se degrada a nossa democracia, semelhante àquela a que aumenta a mediocridade dos nossos representates eleitos, é vertiginosa. Os estadistas querem-se “pequenos” em poder, não em integridade, inteligência ou noutras características que permitam que os estragos que façam sejam os menores possíveis.

Num espírito quixotesco de apelo à razão e a um mínimo de vergonha na cara, deixo aqui algumas notas:

1) O facto de governos anteriores terem faltado a promessas não constitui atenuante na imoralidade do actual fazer o mesmo. O consenso generalizado de que os políticos mentem porque essas são as regras do jogo, em conjunto com a indiferença geral à prática dessa mentira, leva a uma espiral de falta de vergonha que é um perigo para a democracia.

2) As formalidades da democracia existem para garantir que ela continue uma democracia. Quem não se satisfaz com o cumprimento das formalidades apenas mostra desconforto com as mesmas. Quando essa insatisfação vem de alguém que acha que é «a lei que dá a liberdade», quem devia sentir desconforto são aqueles que prezam essa liberdade.

3) As falhas de carácter dos estadistas só são irrelevantes para o desempenho das suas funções políticas quando afectam apenas e exclusivamente a sua vida privada. Se pecadilhos privados podem afectar o desempenho público, as falhas passam a ser relevantes. Se ainda por cima incluem trocas de favores públicos, passam a ser um caso de polícia.

4) O cerrar de fileiras de cada lado da barricada quando estão em causa aspectos que nada têm de ideológicos, como a honestidade ou integridade, apenas serve para criar divisões artificiais que relativizam a imoralidade, a corrupção e o abuso da “coisa pública”.

5) A liberdade de expressão inclui o direito de difundir informações relevantes, legalmente obtidas, sobre os titulares de cargos públicos. Se essas informações forem falsas, existem os tribunais para repôr a justiça. Se não forem, há que retirar as ilações correspondentes. Não se pode é acusar a comunicação social de fazer oposição. Já há barricadas que cheguem.

Etiquetas: ,


21 abril 2007

 

Imbecilidade Abundante II


No Expresso [negritos meus]:
«Na sua última entrevista política, o ex-ministro das Finanças e Economia de António Guterres não deixa margens para dúvidas: Joaquim Pina Moura defende um projecto ibérico para Portugal e reconhece que continuará a fazer política, agora na comunicação social.»

Etiquetas:


20 abril 2007

 

How romantic...



"Queres celebrar comigo um contrato a prazo de cinco anos, renovável por períodos iguais?"

"Oh! Sim, sim!"

Etiquetas:


17 abril 2007

 

It's a small world. Yeah, right...


Escreve RMD, no 31 da Armada:
I did not have sex with that woman

António José Morais e José Sócrates são militantes do mesmo partido. António José Morais deu aulas no ISEL a José Sócrates. Entretanto António José Morais foi nomeado para o governo por um amigo de José Sócrates. António José Morais fazia parte do grupo de amigos de José Sócrates. A empresa de António José Morais trabalhava para concursos públicos na área do ambiente ao mesmo tempo que José Sócrates era Secretário de Estado do Ambiente. Quando António José Morais mudou de universidade, José Sócrates também mudou. António José Morais deu-lhe quatro disciplinas numa turma "especial". António José Morais voltou a ser nomeado para um governo socialista, com Sócrates primeiro-ministro. E, mesmo assim, nunca tiveram qualquer relação.

Etiquetas: , , ,


14 abril 2007

 

Imbecilidade Abundante


Juntado-se a fome com a vontade de comer, que é como que diz, o impulso planificador com o impulso controleiro, dá nisto:

Researchers explore scrapping Internet

Although it has already taken nearly four decades to get this far in building the Internet, some university researchers with the federal government's blessing want to scrap all that and start over.

(...)

No longer constrained by slow connections and computer processors and high costs for storage, researchers say the time has come to rethink the Internet's underlying architecture, a move that could mean replacing networking equipment and rewriting software on computers to better channel future traffic over the existing pipes

(...)

One challenge in any reconstruction, though, will be balancing the interests of various constituencies. The first time around, researchers were able to toil away in their labs quietly. Industry is playing a bigger role this time, and law enforcement is bound to make its needs for wiretapping known.

Etiquetas: , , ,


13 abril 2007

 

Thomas Jefferson


No blog de George Reisman, um excelente texto de Gen LaGreca assinalando o aniversário do nascimento do autor da Declaração de Independência dos Estados Unidos da América:
On April 13th every American should raise a Champagne glass high to toast the farmer, architect, scholar, revolutionary, and American president born that spring day in 1743: Thomas Jefferson. One of our greatest Founding Fathers, Jefferson lovingly carved much of the government and character of his precious gem, America.

He penned numerous documents extolling the revolutionary ideas of his time, including the stirring words on the parchment that is the soul of America, "The Declaration of Independence." Yet how many of our current citizens—and elected officials—truly understand its meaning?

The Declaration launched the first country in history based on the principle that every individual possesses certain "unalienable" rights. According to Jefferson's writings, "free people [claim] their rights as derived from the laws of nature, and not as the gift of their Chief Magistrate." No tyrant can violate the rights of man, nor can any majority vote in Congress. "[T]he majority, oppressing an individual," says Jefferson, "is guilty of a crime … and by acting on the law of the strongest breaks up the foundations of society." >>Ler o resto

Etiquetas: ,


11 abril 2007

 

Liar, liar, pants on fire


Check it out.
The school bell rang.
This wasn't a bad thing. It rang every day. But today it rang from half a block away. I was late.
By the time I got to school, everyone else was pledging allegiance. I pledged along with them while I ran down the hall.It sounded more like huffing and puffing and gasping and wheezing. But it was really pledging.
I caught up to Jerry Paradise just outside our third-grade classroom.
He sneered at me. "Boy, Zoe. Are you ever in trouble!"
"Me?" I said. "You're as late as I am!"
When Jerry has something on you, he goes ballistic. He bounces up and down, and his voice gets high-pitched, like a bird's.
"I've got an excuse!" chirped Jerry. "I've got a note! Mrs. Moore! Mrs. Moore!"
I followed him into class. He pushed the paper right up to Mrs. Moore's face.
"My dad just left on a business trip to Japan," he announced. "So I got to go to the airport to say good-bye."
Our teacher read the note. "What an exciting trip," she told Jerry.
The she turned to me. "And how about you, Zoe? Why weren't you in class when the bell rang?"
I frowned. It's pretty easy to tell the truth when your dad takes airplane trips to amazing far-away places.
"Check it out," I began. "I was on the bus --"
"You walk to school!" squawked Jerry.
"I was walking to school," I restarted, "and I met this really famous movie star."
"Oh wow!" cried Brittany Sanders. "Which one?"
Oops. Brittany knew about all the actors, and their clothes designers, and what kind of cars they drove. Her mom used to be a fashion model. I had to be careful.
"He made me promise not to say," I replied in a low voice. "If too many people find out there's a movie star in our town, he'll get mobbed."
"Liar, liar, pants on fire!" called Jerry.

Copyright (c) 1997 Gordon Korman

Etiquetas: ,


10 abril 2007

 

Double Standard


Bem sei que sou sportinguista, e tal, e que não sou propriamente imparcial. Mas como é que quem achou que a lista de devedores do estado era uma violação de privacidade pode agora discordar quando o Supremo Tribunal de Justiça defende a mesma tese? Então as dívidas de uma pessoa (colectiva ou singular) não são do foro privado? Que eu saiba o sigilo fiscal só foi levantado pelo actual governo e o processo em causa remonta a 2001. Agora deixem-se lá de anti-sportinguismo primário e digam lá se ainda acham a decisão surpreendente?

 

As versões sucedem-se...


No sítio do governo é licenciado, mas sem data. Oficialmente, têm dito que a licenciatura foi na UnI em 96, com direito a explicação do ministro e tudo. Na biografia oficial da Assembléia da República de 93, já era licenciado. Mas nas legislaturas anteriores era bacharel. Antes das eleições de 2005, o DN dizia que ele tinha "complementado" o bacharelato com a licenciatura ainda em 81.

Será que José Sócrates acha que a desculpa esfarrapada de que é "completamente alheio" à elaboração da referida biografia cola? É que se fosse o único erro, ainda passava; mas no meio desta balbúrdia, parece uma anedota de mau gosto. É falta de respeito pela inteligência dos seus concidadãos; para não falar dos seus eleitores...

Etiquetas: , ,


04 abril 2007

 

Idiosincrasias para todos os gostos


Quando se quer, à força, demonstrar um determinado esteriótipo de estimação, é fácil cair na contradição e disparate. Pedro Arroja está de tal modo empenhado em provar as suas ideias esteriotipadas e deterministas relativamente às diferenças das sociedades predominantemente católicas face às protestantes que escreveu isto:
"Quem vive num país de língua inglesa [surpreende-se por vezes] por encontrar nessa língua palavras ou expressões que são directamente importadas do português. (...) A mais terrível, porém, é a expressão auto-da-fé. Não existe tradução em inglês, escreve-se em inglês como no seu original português. Aparentemente, nunca passou tal ideia pelo espírito anglo-saxónico, é uma ideia inconcebível nesta cultura, e por isso não existe uma expressão própria para a traduzir."
Deve ser por isso que os anglo-saxónicos são tão aversos ao negócio, tendo importado o termo entrepreneur de França, esse baluarte do capitalismo; ou porque são pessoas tão fatalistas e deprimidas, que precisaram de ir buscar joie-de-vivre ao francês para explicar a coisa. Estou certo que alguma investigação iria desenterrar inúmeros exemplos, quer num sentido ou outro.

Etiquetas: , , ,