28 dezembro 2006
Noi Vivi
Perante esta afirmação do Pedro Sá:
Aliás, uma das medidas que gostaria de decretar a longo prazo seria a da proibição da concessão de trabalho a quem não tivesse um diploma de ensino superior.Comentou o leitor lucklucky:
Viva Proibir, proibir! E votar podem? E ter filhos?Ao que o primeiro respondeu:
Não vamos comparar votar com trabalhar pois não ?Brilhante. Realmente trabalhar não é de todo essencial. Vou presumir que o Pedro Sá não acha que o estado deve sustentar quem fôr proibido de trabalhar por não estudar. Afinal isso constituiria um brutal incentivo ao ócio, e a ética de trabalho subjacente ao desejo do Pedro Sá de que apenas pessoas com altas qualificações possam trabalhar não permitiria tal coisa. Ou seja, o estado tem a obrigação de, a bem de todos, decidir quem pode viver.
Uma experiência do género ocorreu na União Soviética dos anos 20. Não nos moldes em que pensa o Pedro Sá, mas na óptica inversa: o estado proibiu os "filhos da burguesia" de frequentar a universidade e de aceder a colocações que dependessem do estado. Como também não podiam trabalhar por conta própria, pois todas as empresas precisavam de licenças para operar, ficaram sem meios de subsistência.
O romance de Ayn Rand, "We the Living", com alguns traços autobiográficos na personagem principal Kira, retrata bem este periodo da história. O romance foi passado para o cinema em 1942 pelo italiano Goffredo Alessandrini, tendo Alida Valli (na foto) no papel de Kira. Cheio de sorte, há cerca de dez anos arranjei este filme em laserdisc, numa loja de discos em segunda mão nos EUA. O filme é um daqueles momentos deliciosos que deixa qualquer pessoa minimamente liberal a rir de contentamento: o Partido Fascista de Mussolini deu o seu aval à produção do filme como um elemento de propaganda anti-comunista; quando o filme estreou, o partido apercebeu-se de que o filme era também (obviamente) anti-fascista e mandou censurá-lo. No ano seguinte, Valli recusou-se a fazer mais filmes por não querer ser usada em propaganda fascista e teve de fugir. Foi descoberta por David O. Selznick depois da guerra e foi badalada como a "next Greta Garbo" durante os quatro anos em que viveu em Hollywood. Os seus filmes mais conhecidos nesta altura foram "The Paradine Case" de Alfred Hitchcock, onde contracena com Gregory Peck, e o lendário "The Third Man", com Joseph Cotten e Orson Welles. Voltou para Itália em 1951 e teve uma longa e bem sucedida carreira no cinema europeu. Fez o seu último trabalho em 2002, tinha já 81 anos de idade, tendo morrido em Abril deste ano. Não era licenciada. Imaginem, se não pudesse trabalhar, o que se teria perdido...
(link original via O Insurgente)
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