Crónica do Migas
Beneath this mask there is more than flesh. Beneath this mask there is an idea, Mr. Creedy, and ideas are bulletproof.

28 dezembro 2007

 

Previsões do Migas para 2008


Antes do verão, os especialistas do costume irão prever que a época de furacões de 2008 será a mais activa de sempre. Tal como junkies da roleta, começarão a mostrar brilho nos olhos, risos nervosos a aproximar a histeria e ligeiro tremor da mãos à medida que dizem "Vais ver! Agora vai sair vermelho."

Ainda não será este ano que o Porto não ganha o campeonato. Mostrando grande desportivismo, os Dragões perderão pontos após pontos até à penúltima jornada, partindo para o último jogo com menos um ponto que o Sporting e o Benfica. Em Alvalade, um golo marcado no último minuto levará a um empate dos Leões com o Boavista. O Benfica perderá na Luz com o Vitória de Setúbal, permitindo assim ao Porto passar para a frente.

O Tiago Mendes irá escrever mais um artigo de 7500 palavras a explicar o que aconteceu na Atlântico. O texto acabará a lançar as culpas sobre as pequenas vozes sussurantes que ouve dentro da cabeça e que não consegue afastar. A TVI irá adquirir os direitos da história para lançar um programa de reality TV sobre bloggers inadaptados.

O desemprego continuará a aumentar. Depois de várias sessões parlamentares a culparem-se uns aos outros, os partidos mudarão de estratégia e passarão a atirar com as culpas para outros lados. O Bloco dirá que a culpa é do Bush e do aquecimento global; o PCP queixar-se-á das grandes multinacionais; o PS enumerará os problemas que enfrenta o governo com a pesada herança salazarista; o PSD protestará contra a oposição interna; o CDS dividir-se-á em várias facções que não conseguem concordar se a culpa é de Afonso Costa, João Franco, D. Miguel ou D. Pedro IV.

Numa espectacular cisma causada por uma sequência de posts em que defende a diminuição de alguns poderes do estado, o Luís Lavoura será ostracizado pelos colegas de blogue do MLS por estar demasiado à direita. "Liberalóide powerpoint!", acusarão eles. Em solidariedade, o Small Brother e a Crónica do Migas aumentarão o ritmo de posts a implicar com o Luís.

Depois de sensacionais resultados na fase inicial das primárias, Ron Paul perderá a nomeação para Rudy Giuliani. A aliança dos restantes candidatos em torno do ex-mayor de Nova Iorque, contra Paul, será determinante no resultado final. Giuliani tomará como slogan da sua campanha a acusação "Ron Paul é um ultraconservador neo-liberal de extrema-direita".

O Insurgente chegará ao visitante numero 2.000.000 no final do verão. Os adversários espumarão de raiva e dirão que se trata de uma conspiração da Mont Pelerin Society.

Pacheco Pereira e outros bloggers verão finalmente esclarecidas as suas dúvidas quanto ao financiamento do 31 da Armada. Quando a verdade vier a público, todos irão achar-se estúpidos por não terem visto o que era perfeitamente óbvio. Como poderia George W. Bush resistir a financiar um blogue cujo principal mentor se chama "Moita", ainda por cima, "de Deus"?

O Pedro Arroja revolucionará todo o conhecimento ao desenvolver uma grand theory of everything para lá de todas as expectativas de Stephen Hawking. A simplicidade da sua enunciação deixará todos sem palavras. Todos os factores causais do universo se resumem a judeus, mães, meninos mimados, juristas formados em Coimbra, fodilhões das pampas e à Igreja Católica.

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20 dezembro 2007

 

Entendimento mínimo II


Tem muita piada o Daniel Oliveira acusar o João Miranda de "transformar ideologia em ciência", comparando com o marxismo, e depois apresentar como suporte à sua posição favorável ao salário mínimo as ideias de duas pessoas (os ladrões de bicicletas João Rodrigues e Nuno Teles) que são marcadamente influenciadas pelo marxismo. Também é cómico dizer que o outro lado num debate usa "argumentos de autoridade" e depois apresentar meia-dúzia de "prémios nobel" como contra-argumento. Além da escorregadia linguagem usada pelo João Rodrigues, como a afirmação de que "o salário mínimo não provoca necessariamente desemprego", já abordada pelo BZ, os subtractores de velocípedes omitem dos seus argumentos, convenientemente, quais são os factores que explicam a disparidade observada no crescimento dos salários face ao crescimento da produtividade. Esta disparidade é referida por eles como uma razão para aumentar o salário mínimo e assim "reequilibrar" a relação de forças entre trabalho e capital. Argumento mais marxista seria difícil.

O primeiro factor, e mais directo, é que a globalização aumenta a concorrência no "factor trabalho", ultrapassando distâncias geográficas. Trabalhadores não-qualificados em países remotos oferecem os seus serviços a uma fracção do custo local. Isso deprime o crescimento real dos salários; mas não necessariamente (se ele pode usar, eu também posso) do nível de vida. Hoje em dia, uma família "proletária", mesmo que tendo um vencimento a preços constantes que subiu menos do que poderia potecialmente ter subido, tem acesso a um leque de bens de lazer e qualidade de vida que há trinta anos tinham um custo proibitivo.

O segundo, embora menos directo é muito mais relevante; é que o aumento de produtividade não surge do nada. É tipicamente socialista assumir as coisas como dados adquiridos e partir daí para uma "redistribuição mais justa"... O aumento de produtividade passa geralmente por uma maior aplicação de capital. Por arrasto, esta aplicação leva a um aumento da especialização e formação dos trabalhadores, daí que estes se tornem mais valiosos no mercado de trabalho. Mas não é com essa finalidade que os investidores disponibilizam capital. O objectivo de um investimento é obter um retorno adequado ao risco associado ao projecto. Esse retorno é ele próprio um preço de mercado. Se um projecto não tiver perspectivas de permitir o retorno desejado, os investidores não disponibilizarão o capital.

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19 dezembro 2007

 

Entendimento mínimo


Em resposta ao João Miranda, Daniel Oliveira diz ter 426 argumentos contra a posição da Juventude Popular relativamente ao salário mínimo. Mas que um deles é o principal:
«(...) receber, com os preços em vigor em Portugal, menos do que 426 euros de salário por 22 dias úteis de trabalho é escravatura.»
Para lá da demonstração de desconhecimento sobre aspectos empiricamente demonstráveis do funcionamento da economia, relativamente comuns à esquerda, onde o que contam são "boas intenções" e não resultados; Daniel Oliveira mostra também desconhecimento da realidade diária portuguesa. A visão urbana e "lisboa-cêntrica" de que o nível de vida é igual por todo o país é curiosa. É que quem sofre mais com estas medidas não mora em Lisboa, ou sequer no Porto, Setúbal ou Coimbra. O desemprego inevitavelmente gerado com este tipo de medidas "simpáticas" ocorre no interior e em áreas semi-urbanas em declínio; é lá que trabalham a maior parte dos cerca de 4-5% dos trabalhadores portugueses que ganham salário mínimo.

Não deixa de ser irónico que as mesmas pessoas que mais se manifestam pelo aumento do salário mínimo, acabam mais tarde a manifestar-se contra o encerramento de fábricas cuja viabilidade perdeu-se com o aumento dos custos de produção; algo que ocorre, em parte, porque os salários aumentam mais depressa que a produtividade. Ou que se admiram pelo declínio e desertificação do interior. Mas há sempre uma mensagem de esperança e conforto para aquelas senhoras cuja fábrica têxtil acabou de fechar, não havendo mais nenhuma alternativa de trabalho na terra. Diz o "bom esquerdista": «Deixe lá, camarada. Ao menos vai deixar a escravatura. Acabou-se a exploração.»

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17 dezembro 2007

 

F*§#-$€


«O contrato social diz como é a sociedade: como ela é agora - embora agora, no agora de Rousseau, a sociedade não fosse ainda (ou já tivesse sido).

Mas esse não-ser-ainda ou já-ter-sido (conceitos que só se explicam pelo próprio contrato social) não são precisamente históricos, e portanto também não são utópicos, quer no mito do ante-passado, quer na idealização do porvir: revelam antes o desajuste constitutivo de uma sociedade que violou aquilo em que unicamente assenta (o contrato social propriamente) e que, por isso mesmo que não está sendo o que é, já tem de ter sido ou de vir a ser, porque não é pensável que pura e simplesmente não seja, sendo dado que justamente é
agora.

Eis o que é claro desde o começo da obra
O Contrato Social.»*

*António Pedro Mesquita - Rousseau, Kant e António Sérgio: em torno do Conceito de ‘Vontade Geral’

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The Six Million Dollar Man



Ron Paul collects $6 million in a single day Los Angeles Times
Ron Paul Beats Own Fundraising Record Washington Post
Ron Paul backers stage Boston Tea Party, raise millions Boston Globe

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05 dezembro 2007

 

Liberalismo e Marxismo


(também postado n'O Insurgente)

Recorrentemente aparece alguém algures que tenta comparar o liberalismo ao marxismo. Se no caso do marxismo já é relativamente errado encará-lo como uma corrente única, no caso do liberalismo é um tremendo equívoco, como referiu aqui, acertadamente, o RAF. De qualquer modo, é interessante analisar as razões que levam alguns a fazer esta comparação. Deixando de lado aqueles que se limitam a aplicar a etiqueta "marxista" ao liberalismo, ou por vezes até a alvos liberais específicos, como se fosse um palavrão ou uma ofensa pré-adolescente, podemos classificar a comparação da seguinte forma:
A questão do determinismo económico é interessante na medida em que há de facto um paralelismo superficial. Liberalismo e marxismo partem da observação de que a sobrevivência é a preocupação primordial de cada homem (algo óbvio, diria eu); seguidamente verificam que a acção dos indivíduos na resposta a essa preocupação é condicionada pela realidade económica. Onde diferem, e não pouco, é que o marxismo afirma que as limitações económicas levam à disseminação da ideologia que perpetua essa realidade, isto é, que os factores económicos têm primazia sobre os factores políticos. Esta afirmação tem a sua origem na perspectiva marxista de que a história faz-se de conflitos entre classes, tendo a classe dominante controlo sobre os meios económicos e, por conseguinte, o domínio sobre as restantes. O liberalismo focaliza a sua análise no indivíduo, por isso, como identificou Lord Acton, vê o conflito antes entre liberdade individual e poder coercivo; pelo que a liberdade económica é parte indissociável dessa liberdade, contra toda a espécie de concentração de poder.

O construtivismo social é uma acusação perfeitamente infundada. A liberdade individual defendida por todas as correntes liberais tem raízes pré-políticas. É defendida como um bem em si mesmo e não como um passo na construção de alguma sociedade ideal. Podemos, por indução, verificar que os resultados que esta liberdade traz são positivos. Mas a defesa dessa liberdade permaneceria mesmo que os não trouxesse. Já o construtivismo marxista é real. No seguimento do seu ponto de partida essencialmente determinista, como vimos acima, o marxismo defende que se deve activamente procurar uma revolução que altere as condicionantes económicas, com vista à construção da tal sociedade ideal. Neste contexto, a defesa da acção colectiva marxista depende sempre do objectivo final a construir. O fim justifica os meios.

O racionalismo utópico é no fundo uma questão etimológica. É uma acusação feita essencialmente ao ramo objectivista. Existe um enorme mal-entendido na atribuição a Ayn Rand do adjectivo "racionalista". O objectivismo está muito mais próximo do empirismo (p.ex. John Locke) do que do racionalismo (p.ex. Descartes). A linha epistemológica do objectivismo vem na tradição aristotélica, incluindo alguns dos seus desenvolvimentos tomistas e do iluminismo. Já o marxismo vai buscar a sua reputação "racionalista" pelo carácter pretensamente científico. Esta confusão é materializada, por exemplo, na matriz de Pournelle, que coloca objectivistas e comunistas no extremo "racionalista" da matriz; embora em extremos opostos no eixo do "estatismo" (o que já em si está mal, tendo em conta que Rand era minarquista).

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04 dezembro 2007

 

Bem prega Frei Tomás...


Esta é tão boa que ainda me estou a rir [negritos meus]:
The story goes a little like this, the MPAA weasels released a toolkit for universities to ostensibly track down people the content MAFIAA might be interested in extor^h^h^h^h^hchatting with. Ironically, this toolkit is based on a lot of open source software, not the usual DRM'd proprietary monstrosities they are so fond of. Getting really ironic, they appear to have modified the files and distributed them without giving out the source or telling people how to get said source files.

The technical term for doing this to GPL'd software is copyright violation. This is because if you abide by the GPL, you have a license to the copyrighted work therein. If you do not abide by it, like the MPAA appears not to have done, then you are a copyright violator.

One of the copyright holders tried in vain to get them to listen, only getting the run around from clueless secretaries. He eventually had to, wait for the added irony, contact the MPAA's ISP to get the offending copyright violations removed. Tis to laugh.

The before and after shots show the MPAA did actually remove it, but the fact remains that as of now, they appear to have done some copyright infringement, and the source and changes are nowhere to be found. Unless they do soon, we can only assume they will be sending Matthew $738,098,331.24 per CD shipped, a fair and reasonable sum by their own standards.

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01 dezembro 2007

 

Dizer besta


O André Azevedo Alves está para a blogosfera como o Sammy Davis Jr está para o entertainment: Tem pelo menos um atributo que garante que haja sempre alguém que embirre com ele. Ser liberal, católico e frontal maximiza a probabilidade dele levar os que não concordam com ele a perder as estribeiras. Até eu, talvez por causa dos meus precoces cabelos brancos, já pude ser observado no passado erguendo o sobrolho esquerdo alguns milímetros ao ler um ou outro dos seus posts mais confrontacionais.

Nem quero pensar no que diriam os seus críticos se soubessem que, ainda por cima, ele é um reptiliano de língua bifurcada que come criancinhas, temperadas com aspartame, ao pequeno almoço, enquanto conspira com o seu dark master, o malévolo lorde da Mont Pelerin Society, para eliminar da face da galáxia os mestrandos jedis de Oxford. Para não falar no facto de ser sobrinho, pelo lado da prima da vizinha de baixo do cunhado do Donald Rumsfeld.

Bom. Manda o princípio da dupla precaução que eu aqui me proteja deixando bem claro que os parágrafos acima eram a gozar. Uma vez que o Tiago Mendes anda por aí a retirar palavras e frases do seu contexto para lançar ataques ad hominem ao Darth, quer dizer, André. É que levar estas coisas com humor e boa disposição é o melhor que se pode fazer perante a mais deprimente e patética demostração de despeito, mesquinhez e inveja que eu me lembro de ter lido na blogosfera. Perto disto, até a "extrema-esquerda trauliteira", como lhe chamaria o André, parece cordata e razoável.

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