19 dezembro 2007
Entendimento mínimo
Em resposta ao João Miranda, Daniel Oliveira diz ter 426 argumentos contra a posição da Juventude Popular relativamente ao salário mínimo. Mas que um deles é o principal:
«(...) receber, com os preços em vigor em Portugal, menos do que 426 euros de salário por 22 dias úteis de trabalho é escravatura.»Para lá da demonstração de desconhecimento sobre aspectos empiricamente demonstráveis do funcionamento da economia, relativamente comuns à esquerda, onde o que contam são "boas intenções" e não resultados; Daniel Oliveira mostra também desconhecimento da realidade diária portuguesa. A visão urbana e "lisboa-cêntrica" de que o nível de vida é igual por todo o país é curiosa. É que quem sofre mais com estas medidas não mora em Lisboa, ou sequer no Porto, Setúbal ou Coimbra. O desemprego inevitavelmente gerado com este tipo de medidas "simpáticas" ocorre no interior e em áreas semi-urbanas em declínio; é lá que trabalham a maior parte dos cerca de 4-5% dos trabalhadores portugueses que ganham salário mínimo.
Não deixa de ser irónico que as mesmas pessoas que mais se manifestam pelo aumento do salário mínimo, acabam mais tarde a manifestar-se contra o encerramento de fábricas cuja viabilidade perdeu-se com o aumento dos custos de produção; algo que ocorre, em parte, porque os salários aumentam mais depressa que a produtividade. Ou que se admiram pelo declínio e desertificação do interior. Mas há sempre uma mensagem de esperança e conforto para aquelas senhoras cuja fábrica têxtil acabou de fechar, não havendo mais nenhuma alternativa de trabalho na terra. Diz o "bom esquerdista": «Deixe lá, camarada. Ao menos vai deixar a escravatura. Acabou-se a exploração.»
Etiquetas: dissonância cognitiva, economia, falácias