24 agosto 2006
Oligopólios
Há questões complexas. Qualquer liberal ou defensor da economia livre, à partida, deveria aceitar uma fusão entre a TMN e a Optimus como sendo um acto livre entre os accionistas das duas empresas. Compete apenas aos accionistas determinar a estrutura de capital da sua empresa. Contudo, existe no caso dos operadores móveis um factor adicional que impede um raciocínio tão linear: o seu negócio é um oligopólio concedido e protegido pelo estado.
Podemos, devemos mesmo, questionar a legitimidade do estado para criar estes oligopólios; por vezes, ainda pior, monopólios. Mas a partir do momento em que constatamos a realidade não podemos fechar os olhos e dizer que o que se passa nesses sectores é prerrogativa dos seus accionistas e que devemos "deixar o mercado funcionar". Este mercado não funcionará bem pela simples razão que não é um mercado livre.
É sabido que um oligopólio de três players que passe a duopólio tenderá a evoluir para uma situação de equilibrio com preços mais altos. Cournot identificou este equilibrio há mais de cem anos. A sugestão de que o governo pode atribuir outra licença para "aumentar a concorrência" é risível, tendo em conta o estado de saturação do mercado. Outras medidas que incentivem o aparecimento de um terceiro operador terão de ser bancadas pelos operadores incumbentes (roaming nacional compulsivo, tarifas de interligação fixadas e/ou subsidiadas, etc). Para isso mais vale deixar as coisas como estão, pois mais intervenção e regulação apenas servirá para alimentar a espiral regulatória.
Etiquetas: economia, liberalismo, teoria de jogos
Bocas:
Enviar um comentário
<- Página Principal
"A sugestão de que o governo pode atribuir outra licença para "aumentar a concorrência" é risível"
As licenças deviam estar disponíveis para serem compradas por todos os que quisessem (ou numa situação ideal, nem deveriam sequer ser compradas). Se tal acontecesse o equilíbrio de mercado seria sempre mais baixo queo de Cournot.
Para além disso, o mercado móvel concorre com outros mercados de telecomunicações, e não é fechado. Assim sendo não tem uma curva de procura "clássica", um dos pressupostos para o equilíbrio de cournot
As licenças deviam estar disponíveis para serem compradas por todos os que quisessem (ou numa situação ideal, nem deveriam sequer ser compradas). Se tal acontecesse o equilíbrio de mercado seria sempre mais baixo queo de Cournot.
Para além disso, o mercado móvel concorre com outros mercados de telecomunicações, e não é fechado. Assim sendo não tem uma curva de procura "clássica", um dos pressupostos para o equilíbrio de cournot
Concordo no entanto que do ponto de vista liberal, no actual contexto de atribuição de licenças, é de facto uma questão complexa.... :)
Obrigado pelo comentário Francisco.
Até há mais alguns factores além desse que fazem com que os requisitos de Cournot não "colem" perfeitamente. O produto não é totalmente homógeneo e existe o efeito de "rede" que acaba por fazer parte da definição do produto. O mais natural é que o operador com 70% de quota consiga cobrar preços médios mais altos que o de 30% com base neste efeito.
Quando à concorrência, o facto do estado ter protegido os incumbentes nos últimos 15 anos torna o mercado especialmente difícil para um novo player. Mesmo que o estado elimine as barreiras à entrada regulatórias, os estragos já estão feitos. Por alguma razão a Oniway nunca chegou a usar a licença que lhe foi atribuida...
Até há mais alguns factores além desse que fazem com que os requisitos de Cournot não "colem" perfeitamente. O produto não é totalmente homógeneo e existe o efeito de "rede" que acaba por fazer parte da definição do produto. O mais natural é que o operador com 70% de quota consiga cobrar preços médios mais altos que o de 30% com base neste efeito.
Quando à concorrência, o facto do estado ter protegido os incumbentes nos últimos 15 anos torna o mercado especialmente difícil para um novo player. Mesmo que o estado elimine as barreiras à entrada regulatórias, os estragos já estão feitos. Por alguma razão a Oniway nunca chegou a usar a licença que lhe foi atribuida...
A sugestão de que o governo pode atribuir outra licença para "aumentar a concorrência" é risível, tendo em conta o estado de saturação do mercado.
Claro que o nível de saturação não deve ser decidido administrativamente. Eu seria favorável à atribuição de novas licenças, e que companhias concorrentes viessem fazer their thing...
Claro que o nível de saturação não deve ser decidido administrativamente. Eu seria favorável à atribuição de novas licenças, e que companhias concorrentes viessem fazer their thing...
Enviar um comentário
<- Página Principal