Crónica do Migas
Beneath this mask there is more than flesh. Beneath this mask there is an idea, Mr. Creedy, and ideas are bulletproof.

06 junho 2006

 

Natureza Humana III


O JLP escreveu um post no Small Brother onde explica algumas discordâncias que tem relativamente ao que escrevi anteriormente sobre a natureza humana. Essencialmente, as suas divergências comigo prendem-se com dois pontos:

1) Ao contrário de mim, que defendo um liberalismo consistente com o objectivismo nos seus princípios filosóficos, e consequentemente tenho uma visão benévola (optimista) da natureza humana, o JLP tem uma visão mais próxima da hobbesiana, em que os homens têm tendências naturais predatórias.

2) De igual modo, enquanto eu considero que o socialismo tem uma visão negativa da natureza humana, o JLP, por contraponto à sua visão hobbesiana, entende que o socialismo tem uma visão optimista da natureza humana.

No que toca à primeira discordância, não há muito a dizer. A perpectiva de cada um da natureza humana é essencialmente subjectiva, podendo ser explicada por vários factores; desde a sua educação à sua vivência, passando pelos princípios metafísicos, conscientes ou subconscientes, que estão subjacentes à sua filosofia. Contudo, a evidência empírica não parece suportar a ideia que "quando falamos de seres humanos, bem como de todos os outros animais, falamos só de falcões", antes pelo contrário. O único problema que vejo nesta posição é a forma natural como abre a porta à segunda discordância, relativamente à qual o JLP escreveu:

"O Socialismo genericamente é optimista porque acredita que esse cenário é atingível, um cenário de homens iguais vivendo em harmonia e satisfeitos com o que têm. A mera assumpção de que isso é possível torna-a provavelmente na ideologia mais optimista em relação ao ser humano é à sua natureza."
Em primeiro lugar, julgo que há aqui uma contradição - possivelmente apenas semântica - ao atribuir optimismo, no contexto da natureza humana, à ideia de que é possível mudá-la. Negar a realidade e achar que se pode virá-la ao contrário não é optimismo é evasão.

Mais importante parece-me a questão filosófica subjacente. Ao deixar os socialistas reclamar como optimista e positiva a sua visão, comete-se o erro, na minha opinião, de deixá-los ocupar uma espécie de plano mais alto no confronto das ideias. Vejo aqui dois problemas:

i) Existe uma aceitação tácita de que haveria algo de "bom" no cenário descrito. Não é. Os homens não são iguais, nem nunca serão, pela sua própria natureza;

ii) A aceitação desta "bondade" cria um conflito insustentável entre o "ser" e o "dever ser";

Nathaniel Branden definiu dois arquétipos, também usados por Ayn Rand, para aqueles que pretendem dominar os outros: Attila e o Witch-Doctor. O primeiro alcança o seu poder pela força; o segundo através de um código moral que potencie a servidão. O mecanismo pelo qual o Witch-Doctor consegue impor-se é o conflito interior de alguém que aceita um código de valores incompatível com a natureza humana. A destruição da auto-estima que inevitavelmente resulta deixa-o à mercê de quem quiser dominá-lo.

O socialismo, em especial o totalitário, junta os dois arquétipos de forma exemplar. Dá aos homens um objectivo moral inatingível, consequentemente destrói a sua auto-estima, e a seguir torna-os dóceis e acéfalos servos do estado. No background está sempre um Attila, pronto para impor a força se necessário.

"There is no way to turn morality into a weapon of enslavement except by divorcing it from man’s reason and from the goals of his own existence. There is no way to degrade man’s life on earth except by the lethal opposition of the moral and the practical. Morality is a code of values to guide man’s choices and actions; when it is set to oppose his own life and mind, it makes him turn against himself and blindly act as the tool of his own destruction. There is no way to make a human being accept the role of a sacrificial animal except by destroying his self-esteem. There is no way to destroy his self-esteem except by making him reject his own consciousness. There is no way to make him reject his own consciousness except by convincing him of its impotence."

Ayn Rand

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Bocas:
Boa réplica! :-)

Prometo conter o ímpeto até sair a segunda parte para responder em conjunto.

Abraço,

JLP
 
:-) Vou ter que mudar a citação que era um pedaço desta. Mas chamo à mesma a atenção do jlp:
Morality is a code of values to guide man’s choices and actions
 

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