Crónica do Migas
Beneath this mask there is more than flesh. Beneath this mask there is an idea, Mr. Creedy, and ideas are bulletproof.

17 julho 2008

 

Ayn Rand e outras heresias


Caro João,

Tens piada, pá. Gosto especialmente do straw-man de sugerires subrepticiamente que eu sou uma espécie de acrítico seguidor de Rand; um “randróide”, como dizem os mais raivosos anti-randianos; ou que tenho qualquer pretensão a ser uma autoridade na sua interpretação. Curiosamente, se repares bem, eu nem interpretei nada. Limitei-me a citar textualmente. O paralelo com o Pacheco Pereira também é engraçado, mas completamente ao lado. Mas como não estou à espera que percas o teu ocupado tempo a ler o que escrevi no passado, também não precisamos de escarafunchar este ponto. No entanto, podias ao menos ter lido o último parágrafo do meu post e seguido o link para o meu outro post sobre o altruismo. Aí já tínhamos qualquer coisa para debater, e não havia necessidade de mais um name dropping e aquele infindável copy-paste do Zizek.

Ayn Rand é alguém que claramente desperta paixões. Tem seguidores cegos, que deixando cair o contexto do que ela escreveu, quase a lêem como se fosse uma escritura religiosa; e tem detractores que perdem todo o discernimento e racionalidade ao criticarem-na. Como isto do name dropping não tem dono, aproveito o que escreveu George H. Smith:

«Accounts of Objectivism written by Rand’s admirers are frequently eulogistic and uncritical, whereas accounts written by her antagonists are often hostile and what is worse, embarrassingly inaccurate.»

A sugestão de um paralelo ou semelhança entre Rand e o fascismo é um disparate fenomenal. Ao apresentares o argumento recauchutado do Zizek, cais nesse disparate. Objectivamente, a culpa nem é tua. O erro é do Zizek; se lesses o que ela escreveu com atenção verias isso. É o risco de emitir opiniões em segunda mão.

É verdade que Rand teve na sua juventude algum deslumbramento com Nietzsche. Mas isso passou-lhe rapidamente. Por altura da publicação dos seus livros de ficção mais conhecidos já tinha desenvolvido uma visão da realidade completamente incompatível com ele. Para não dizer nada da não-ficção posterior a 1960. É possível que alguma da exaltação nietzscheana do potencial humano tenha influenciado a hero worship presente em The Fountainhead ou Atlas Shrugged. Mas daí a afirmar que Rand tem algum fascínio com a “vontade” e “poder”, ao estilo fascista - e nietzscheano - de imposição pela força aos mais fracos, vai um “salto quântico” na lógica, para não dizer atropelo.

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