29 janeiro 2007
O Cordeiro Sacrificial
É um bocado assustador pensar que muitas pessoas levam uma vida de conflito interno ou auto-infligida miséria por causa de um código moral cuja verdadeira natureza se esconde por trás de equívocos semânticos. A maior parte das pessoas tem normalmente uma predisposição benevolente para quem as rodeia; familiares, amigos ou vizinhos (embora a grande concentração populacional tenha contribuido para um enfraquecimento destes últimos laços). Essa benevolência é cautelosamente extendida a outros, no contexto de uma relação continuada entre cada indivíduo e o ambiente social que o rodeia. As explicações para essa predisposição são múltiplas, desde genéticas a sociológicas, e podem ser entendidas racionalmente.
Acontece, contudo, que a elevação desta benevolência a obrigação ou imperativo, ou a padrão moral pelo qual se medem todas as virtudes, veio criar um conflito insanável entre a primeira necessidade de cada indivíduo - preservar a vida e alcançar a felicidade - e a necessidade que o mesmo tem de agir por forma a preservar os seus valores. Este conflito é materializado, nos nossos dias, pela confusão etimológica entre benevolência, generosidade ou boa vontade, de um lado, e altruismo ou "vida em função dos outros", por outro. O termo "altruismo" foi criado por Augusto Comte para descrever as tendências naturais humanas que visam ajudar os outros. No fundo, a tal benevolência natural. No entanto, filosoficamente, o termo positivo foi apropriado por aqueles que colocam o colectivo acima do indivíduo, dando-lhe um sentido normativo. Desta apropriação, resulta que os atributos explícitos e reiterados do altruismo, enquanto código ético, são:
Perante estes atributos, fazer do altruismo padrão moral, isto é, afirmar que só são bons, virtuosos ou merecedores de reconhecimento aqueles que o praticam, é equivalente a dizer:
- Cada indivíduo tem uma obrigação moral de colocar sempre o interesse dos demais acima do próprio;
- Uma acção só é moralmente certa se as suas consequências forem globalmente positivas para todos excepto quem age;
- A virtude só é atingida por quem "vive para os outros".
Neste contexto, surgem uma série de consequências lógicas que tornam a existência humana em um pesadelo debaixo do código moral altruista: A acção individual que por via do trabalho, da produtividade ou da criatividade, resulta na própria felicidade, é mal vista. O seguro é ser imprestável e miserável, potenciando aos outros a oportunidade de serem virtuosos. Cria-se um freerider problem de dimensões faraónicas, onde cada um tem o incentivo perverso de ser o mais necessitado. Consequentemente, os resistentes que insistem em alcançar o seu potencial tornam-se cordeiros sacrificiais no altar da mediocridade.
- Para ser moral e virtuoso, um indivíduo precisa que existam pessoas mais infelizes ou desgraçadas que ele;
- Se as acções de um indivíduo beneficiam-no, então são imorais;
- A existência em isolamento é imoral ou, na melhor das hipóteses, amoral.
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