12 novembro 2006
De Boas Intenções... II
O Filipe Castro escreveu o que à primeira leitura parece um bem intencionado "manifesto" de compromisso moderado, com referências positivas à liberdade individual, à livre iniciativa e ao próprio capitalismo (contrastando-o com o "capitalismo selvagem", que esse ele já considera disfuncional). Sobre esta suposta moderação, roubando de Hayek e do ditado popular, podemos dizer: "The road to serfdom is paved with good intentions."
Adicionalmente, é difícil considerar moderado um texto que usa afirmações tão erradas que normalmente só esperaríamos ouvi-las de comunistas jurássicos, e não de supostos social-democratas.
Quando o Filipe diz "(...) o capitalismo selvagem que a direita defende e tem implementado continuamente desde meados dos anos 70 (...)", só pode ser piada. Portugal vive numa orgia de corporativismo, social-democracia e estatismo desde que há memória, e se assumirmos que ele entende por "capitalismo selvagem" algo parecido com o que se passa nos Estados Unidos ou no Reino Unido, gostava de saber onde é que ele vê semelhanças... De igual modo, seria bom ele explicar como é que a cleptocracia, jobs for the boys, favores políticos e proteccionismo empresarial que mina a nossa economia é resultado do capitalismo e não do estatismo que tudo controla. Parece-me que mais uma vez, estamos perante o uso de uma definição de capitalismo que não serve para esclarecer mas antes apenas para denegrir.
A deriva aumenta ainda mais quando o Filipe mistura o capitalismo com a suposta guerra religiosa e com o suposto negócio da guerra. Mesmo que fosse verdade que um grupo de fundamentalistas evangélicos arquitectou a invasão do Iraque numa crusada anti-islâmica, o que é que isso tinha a ver com o capitalismo? Mesmo que haja corrupção nas ligações entre o estado americano e empresas como a Halliburton (e admito que sim), isso não é mais uma prova dos problemas no estatismo? Por que raio deita as culpas para o capitalismo?
Já agora, e para terminar, seria bom o Filipe esclarecer sobre que "grupos de milionários" é que escreve. É que à excepção da Fox, a maior parte dos mainstream media americanos são relativamente anti-Bush. E o dono da Fox, Rupert Murdoch, é insuspeito de ser um "cristão fundamentalista". De igual modo, acho piada à ideia que um "grupo de milionários" esperava controlar o petróleo do Iraque. Tendo em conta que 90% do petróleo mundial é controlado por empresas estatais, é engraçado ver a forma como alguma esquerda preserva uma ideia "rockefelleriana" do negócio do petróleo, cheia de robber barons e milionários a fumar charutos sentados em poltronas de cabedal nas salas privadas de clubes reservados...
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