04 novembro 2006
Não é só a Pêra que é Manca
No Economist de há duas semanas vinha um artigo sobre estudos realizados em França para determinar os factores que contribuem para o preço do vinho. Parece demasiado esforço para concluir o óbvio: o preço de uma garrafa de vinho é tão influenciado pela "etiqueta" como pelo vinho propriamente dito.
Qualquer pessoa que tenha estudado um bocado de economia e/ou marketing poderia ter explicado a estes investigadores que o preço determina-se pelo equilibrio entre a oferta e a procura e que para produtos aparentemente iguais a "marca" pode fazer toda a diferença. Se a produção de Pêra Manca fosse muito superior, seria perfeitamente normal que o seu preço fosse muito inferior. E se o mesmo vinho fosse engarrafado com outra etiqueta, é provavel que existisse menor procura - pelo menos no início, antes dessa outra marca se estabelecer no mercado.
Em jeito de reflexão, é interessante considerar o que ocorreria se o estado tentásse dar resposta à escandalização do Filipe Moura e fixásse os preços do Pêra Manca ou do Barca Velha. Afinal, como desejaria o auto-entitulado comunista RAP, porreiro era que todos tivessem acesso a estas pomadas.
A fixação artificial de preços teria de imediato duas consequências previsíveis:
1) O incentivo para investir na qualidade do produto diminuiria. Ou o produtor aumentava a produção, assumindo que isso seria possível, para tentar compensar pela diminuição de receitas, com consequente redução da consistência da qualidade do vinho de ano para ano; ou perdia interesse no negócio e o vinho deixaria de ser produzido.
2) Assumindo que o produtor era um exemplo de altruismo esquerdista e/ou dedicação total à enologia, podemos imaginar que ele continuaria a trabalhar e o vinho continuaria a ser produzido com a mesma qualidade. Neste caso, a discriminação baseada no preço seria substituida por discriminação baseada em acesso ao produto. Só os "espertos", primos da amiga do presidente da junta e membros do Politburo é que conseguiriam comprar uma garrafa.
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