15 junho 2006
Le Ciel Lui Tombe Sur la Tête
O chefe da aldeia dos irredutiveis, Carvalho da Silva, que resiste heroicamente à invasão do império da globalização, deu terça-feira à noite uma entrevista na SIC Notícias onde ficou bem patente a sua desorientação face à iminente catástrofe que se prepara para abater sobre a aldeia. E não há poção mágica que valha.
A entrevista vem no seguimento de uma série de aparições e discursos do Secretário-Geral da CGTP onde este tem apresentado o seu confundido e desorientado pensamento sobre os problemas que os seus “constituintes” enfrentam. O melhor exemplo acaba por ser o seu discurso do passado 1º de Maio. É verdade que a aparente incapacidade do webmaster do site da CGTP em digerir a cassete não ajuda (quase todos os parágrafos do discurso aparecem em duplicado ou mesmo triplicado, e a “lista” de falhas graves do governo aparece umas incríveis 11 vezes). Mas as ideias apresentadas no discurso são de tal maneira contraditórias e a falta de soluções minimamente fundamentadas tão gritante, que não é possível deixar de sentir, ao ler o discurso, uma certa empatia por um homem cujas convicções de décadas estão a ruir à sua volta e a quem o céu está, figurativamente, a cair-lhe em cima da cabeça.
Ao fim de tantos anos a engolir a dialética marxista compreende-se que os comunistas, e outros esquerdistas mais paleolíticos, não sejam capazes de identificar as contradições no discurso de Carvalho da Silva. Para quem precisa de usar a lógica para viver a vida, elas são gritantes: observa que existe concorrência de outros países com salário mais baixos ao mesmo tempo que defende a “melhoria dos salários” e o aumento do salário mínimo para 500 euros; defende a necessidade de fixar investimento estrangeiro ao mesmo tempo que quer impor limites à capacidade de deslocalização das empresas; insiste na manutenção de um sistema de segurança social falido ao mesmo tempo que reconhece as razões que levam à sua insustentabilidade; fala recorrentemente nas suas preocupações com os mais pobres e desfavorecidos ao mesmo tempo que insiste que o sistema de segurança social deve ser tudo para todos e reconhece que não há recursos suficientes.
Por outro lado, há as exigências de wishful thinking, desligadas da realidade. Ser-se contra ao aumento do custo de vida (como se alguém fosse a favor) ou exigir-se a criação de emprego (como se este pudesse ser decretado). Sem esquecer as vácuas afirmações mobilizadoras (ao melhor estilo Sócrates, que parece estar a fazer escola) do tipo “É preciso combater a descrença e o desânimo, com solidariedade, com unidade dos trabalhadores, com luta!”
Por fim, no meio de tudo isto, surge um parágrafo razoavelmente lúcido:
“Quem transforma e constrói um país melhor, não são as declarações de intenções ou medidas propagandistas, mas sim a acção das pessoas, que têm que ser mobilizadas e responsabilizadas nesses objectivos.”Se mudássemos a última frase para “que têm que ser libertadas para agir por si mesmas e responsabilizadas pelos seus actos” já tínhamos um princípio. Infelizmente parece-me que seria pedir muito.
Etiquetas: alienação, dissonância cognitiva, ignorance is strength, self-delusion
Bocas:
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Você parece fazer parte daquele número mínimo é verdade, de individuos que ainda acreditam que o papel dos sindicatos e dos autoproclamados defensores do povo é mesmo o de "defender os trabalhadores" ou o "povo". Santa ingenuidade...
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