24 abril 2009
Uma questão de idade mental
Tenho de confessar uma coisa. Já defendi políticas proteccionistas. Tinha uns 12 ou 13 anos quando numa aula de história o professor apresentou as políticas mercantilistas de Colbert. Tive uma epifânia e achei a ideia genial. Mandar as nossas mercadorias para a estranja e receber ouro em troca era o caminho seguro para a riqueza, certamente. Entusiasmado, falei com o prof no fim da aula. Estávamos, afinal, em plena crise dos anos 80. FMI, desvalorização do escudo e tal. Estava ali a solução para todos os nossos problemas. Ou não?
O veterano professor, já a caminho da reforma, sorriu com ar compreensivo. Virou-se para mim e disse: «Pois... O problema é que se todos fizerem assim, ninguém ganha nada e ficam todos pior.» A resposta deixou-me algo desconcertado. Matutei no assunto algumas horas e lá concluí que o homem tinha razão. Bolas. A ideia até parecia boa.
Hoje em dia, quando os luminários representantes do povo, aqui e além mar, trazem de volta à discussão ideias proteccionistas, também sorrio, lembrando-me do velho prof e do wishful thinking mercantilista. O problema, claro, é que eles não têm 12 anos de idade.
Desigualdades
No Negocios.pt: «Pequenos investidores recebem menos de metade dos dividendos»
Quer ler isto fica a pensar que há pagamentos diferenciados entre accionistas.
Etiquetas: media
19 abril 2009
Demagogia esquerdista sem contas feitas
A sugestão de que se pode combater a crise criando um novo escalão de IRS, como propõe a CGTP, é tão idiota como inútil. Existiam, em 2006, 3666 agregados cujos rendimentos eram superiores a 250.000 euros anuais. Cabem todos no Campo Pequeno e ainda sobram lugares. Estes agregados correspondem a 0,08% da população, têm 2,12% do rendimento total nacional tributável em sede de IRS e os seus pagamentos deste imposto correspondem a 7,59% do bolo total.
Como o rendimento médio destes 3666 agregados é de cerca de 436.000 euros anuais, ignoremos a distribuição dentro do segmento (seguramente enviesada por salários de estrelas de futebol, administradores de grandes empresas e uma mão cheia de quaquilionários) e assumamos que todos seriam abrangidos pelo novo escalão de 60%. Representando os seus 582 milhões de euros de IRS uma taxa efectiva de imposto de 36,4%, é previsível que a sua taxa efectiva subisse para uns 50%. O estado teria mais cerca de 200 milhões de euros em receita de IRS, assumindo que as pessoas em causa se deixavam encurralar no Campo Pequeno sem explorar loopholes ou sem migrar os seus activos para áreas fiscalmente mais eficientes (leia-se, mudarem-se para o Luxemburgo ou até mesmo Badajoz). Isto significaria um aumento de 2,5% nas receitas de IRS. Uau.
Estes fabulásticos 200 milhões de euros anuais, além de permitirem construir umas dezenas de quilómetros de auto-estrada em terrenos agrícolas estéreis onde não mora ninguém, teoricamente serviriam para aliviar a carga fiscal sobre os mais desfavorecidos (presume-se). Acontece que 50% dos agregados portugueses não pagam IRS; e que os 30% a seguir pagam uma taxa efectiva de imposto inferior a 4%. Isto resulta em que 80% dos agregados pagam apenas cerca de 7% de todo o IRS cobrado. Do outro lado estão 12% dos agregados, que pagam 80% do total. Ou seja, os mais desfavorecidos já não pagam.
A conclusão inevitável é que esta proposta, na melhor das hipóteses, apenas se traduziria num aumento punitivo para 3666 famílias, sem sequer trazer qualquer alívio significativo para qualquer outro segmento demográfico (dando de barato que se isso ocorresse a medida seria ética, o que de modo algum acho). Na pior das hipóteses, entre loopholes e deslocalização (tipo Bono, que mudou a residência fiscal para a Holanda), o valor “angariado” seria uma fracção dos 200 milhões. De uma forma, ou de outra, combater a crise é o que esta medida menos faria. A velha frase feita “os ricos que paguem a crise” não é realista. Não há ricos suficientes para pagá-la.
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02 abril 2009
Grandes Exemplos de Lógica
Cândida Almeida diz que não existiram pressões porque os procuradores estão habituados. Pinto Monteiro diz que não existiram pressões, mas "menciona" que vai averiguar "violações da deontologia".
(via JN)
Etiquetas: alienação, caboom, dissonância cognitiva, falácias, gripe das aves, monstro de loch ness, oportunismo, roubalheira, self-delusion, tretas