Crónica do Migas
Beneath this mask there is more than flesh. Beneath this mask there is an idea, Mr. Creedy, and ideas are bulletproof.

11 setembro 2008

 

O impacto da fixação de preços


Imaginemos um país, a Leitónia, onde existe um mercado importante de leite. Por simplicidade, assumamos que neste país, por quaisquer razões, não é viável importar ou exportar leite. Adicionalmente, a capacidade de aumentar a produção é limitada, pois não há mais espaço para ter muito mais vacas. O mercado está equilibrado: Os produtores produzem uma quantidade Q1, que através de um sistema de retalho é vendido aos consumidores leitões ao preço P1.

Um bem intencionado político decide que para promover a qualidade de vida dos leitões, o preço do leite devia baixar, para um preço P2 menor que P1. Para tal ser viável a quantidade de leite vendida teria de ser Q2 maior que Q1. Infelizmente, dadas as restrições na produção, não é possível produzir essa quantidade, pelo que o mercado continua a funcionar no equilíbrio P1/Q1.

Mas isto não detém o nosso idealista. Num gesto magnânimo e progressista, para garantir o acesso democrático ao leite, ele nacionaliza a sua produção. Mas só a produção. Defensor de uma economia mista, regulada, e onde o estado apenas é proprietário de sectores críticos para o interesse nacional, o nosso amigo mantém um sistema de retalho competitivo privado, que garante que para o preço P2 pretendido, de venda ao público, as condições serão tais que permitirão ao produtor estatal (chamemos-lhe Centralact) vender a grosso a um preço que apenas assegure um retorno de capital normal aos retalhistas (em “economês”: sem rendas económicas).

O novo preço P2 < P1 tem como resultado um aumento da procura de leite. Quando maior a baixa de preço mais criativos se tornam os leitões na utilização do produto. Batidos, molhos, gelados e outras sobremesas lácteas passam a fazer parte dos seus hábitos diários. Durante algum tempo todos andam felizes e contentes. Um dia começa a haver falhas de fornecimento. Surgem prateleiras vazias. Não há produção que chegue.

Com a finalidade de impedir uma ruptura dos novos mercados de batidos, gelados, etc, o estado leitão autoriza os retalhistas a diluir ligeiramente o leite com água para aumentar o volume. Praticamente não se nota a descida de qualidade. Durante algum tempo a coisa fica estabilizada. Às tantas, a pressão dos retalhistas sobre a Centralact faz com que a última comece ela própria a juntar água ao leite antes de o vender à distribuição. A quantidade de leite disponível aumenta novamente. Alguns consumidores começam a aperceber-se da inferior qualidade.

Colocadas as coisas nestes termos, julgo que a maior parte das pessoas entende a razão pela qual a fixação de preços está errada. Não é preciso ser um liberal “absolutista” ou “purista” para perceber que preços mantidos artificialmente baixos distorcem o mercado; mesmo que esteja por trás a melhor das intenções políticas. No entanto, se substituirmos “leite” por “moeda”, “Centralact” por “Banco Central” e “retalhistas” por “bancos”, a opinião das pessoas é radicalmente diferente. Já acham que o mercado monetário é um exemplo de capitalismo desenfreado, dogma de mercado e falta de regulação.

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Bocas:
Só entendem quando lhes convém. Olhe o caso dos combustíveis...
 

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