24 julho 2007
Imbecilidade Abundante III
No fim da Avenida de Ceuta, mesmo antes da saída para o eixo norte-sul e a subida para a Praça de Espanha, ou seja numa das principais entradas na cidade, colocaram dois novos conjuntos de lombas. Ao contrário das outras lombas na referida avenida, estas são de tal modo altas que a maior parte dos carros abranda até cerca de 10 km/h para passá-las. No meio de toda esta imbecilidade só me resta ficar aliviado que não tenho de passar ali todos os dias de manhã.
Adenda (7 Agosto): Hoje passei lá e a coisa parece melhor. Já só estão duas lombas, em vez de seis(!), e fiquei com a impressão que eram ligeiramente mais baixas (apesar de ainda assim muito mais altas que as colocadas mais abaixo, ao pé dos radares).
Etiquetas: tretas
12 julho 2007
Premonição
Penso, assim, que a espécie de opressão que ameaça as nações democráticas é diferente de qualquer outra anteriormente existente no mundo; os nossos contemporâneos não encontrarão um seu protótipo nas suas memórias. Procuro em vão encontrar uma expressão que transmita exactamente a ideia completa que formei sobre ela; as velhas palavras despotismo e tirania não são apropriadas: a coisa em si é nova, e como não consigo dar-lhe nome, tenho de tentar defini-la.
Procuro despistar as novas características sob as quais o despotismo pode aparecer no mundo. A primeira coisa que nos é dada a observar é uma enorme multidão de homens, todos iguais e parecidos, procurando incessantemente assegurar os pequenos e insignificantes prazeres com os quais saturam as suas vidas. Cada um, vivendo separadamente, é um estranho face ao destino dos restantes; a sua descendência e amigos próximos constituem para si toda a humanidade. Quanto ao resto dos seus concidadãos, está próximo deles, mas não os vê; toca-lhes, mas não os sente; existe apenas em si mesmo e para si mesmo; e se à sua família ainda permanece ligado, pode dizer-se, em todo o caso, que perdeu o seu país.
Acima desta raça de homens erege-se um poder, imenso e tutelar, que assume para si a tarefa de garantir as suas satisfações e zelar pelos seus destinos. Esse poder é absoluto, minucioso, regular, previdente e brando. Seria semelhante à autoridade de um pai se, como tal autoridade, o seu objectivo fosse preparar os homens para a vida adulta; mas, pelo contrário, procura mantê-los numa infância perpétua: está satisfeita que as pessoas se alegrem, desde que elas não pensem em mais nada senão alegrar-se. O governo afincadamente trabalha pela sua felicidade, mas opta por ser o único agente e árbitro dessa felicidade; providencia a sua segurança, prevê e colmata as suas necessidades, facilita os seus prazeres, gere as suas principiais preocupações, dirige a sua iniciativa, regula a transmissão da sua propriedade e subdivide as suas heranças: que sobra senão poupá-los às inquietações de pensar e ao trabalho de viver?
Desta forma, todos os dias torna menos útil e menos frequente o exercício do livre arbítrio; vai circunscrevendo a vontade a um alcance mais estreito, gradualmente roubando a um homem a utilidade de si mesmo. O princípio da igualdade preparou os homens para estas coisas; tornou-os predispostos a suportá-las e mesmo a considerá-las um benefício.
Depois de sucessivamente apanhar cada membro da comunidade, moldando-o como entende, o poder supremo estende o seu alcance sobre a totalidade da comunidade. Cobre toda a sociedade com uma rede de regras pequenas e complicadas, minuciosas e uniformes, através das quais as mentes mais originais e as personalidades mais enérgicas não conseguem penetrar para salientar-se acima da multidão. A vontade do homem não é estilhaçada, mas antes amolecida, dobrada e orientada; o poder raramente força os homens a agir, mas constantemente impede a sua acção. Este poder não destrói, mas impede a existência; não tiraniza, mas comprime, enerva, extingue e estupidifica as pessoas, até que cada nação fique reduzida a nada mais que um rebanho de animais tímidos e trabalhadores, dos quais o governo é o pastor.
Alexis de Tocqueville - "Da Democracia na América" 2º vol. - sec. 4 - cap. 6 (1840)
Traduzido e adaptado por mim a partir da tradução para inglês de Henry Reeve (1899)
Etiquetas: alienação, individualismo, liberalismo
10 julho 2007
Overreach
(também postado n'O Insurgente)
No ano passado, Peter Leeson escreveu um paper chamado "Efficient Anarchy" onde analisou as circunstâncias em que a anarquia, ou seja a ausência de instituições de governo, é uma opção eficiente para uma determinada sociedade. Encontrou exemplos, onde essa hipótese era válida, ao nível de sociedades primitivas e ao nível global (relações entre nações ou simplesmente relações comerciais entre entidades de estados diferentes). Este tema acaba por ser imensamente útil e actual face aos desenvolvimentos recentes na União Europeia, incluindo a entrada em vigor do pacote regulatório REACH*; que além de ter um nome idiota, seguramente o wet dream de um qualquer controleiro de Bruxelas, é também o maior pacote legislativo alguma vez aprovado pela União.
O enquadramento para a análise de Leeson parte da simples regra G > H - L, isto é, a anarquia é eficiente quando os custos para a sociedade pela existência do governo são superiores aos benefícios que ela tira dele. Numa altura em que os custos do cumprimento das regras de Bruxelas pela indústria europeia ascendem, segundo o comissário Günter Verheugen, a 600 mil milhões de euros por ano, é altura de perguntar se isto tudo realmente vale a pena; se não estará a União a legislar o seu caminho para a desagregação. Tal como o meu velho professor de história, os burocratas em Bruxelas acham que o avanço da Europa se faz por via legislativa; pior, acham que a variável de controlo é quantitativa.
*Registration, Evaluation, Authorisation and Restriction of Chemicals (link para os que sofrem de insónias)
Etiquetas: caboom, democracia, economia, ignorance is strength, liberalismo, roubalheira
05 julho 2007
Ordem Espontânea
Eis um dos melhores posts do Luis Lavoura no Speakers Corner. Depois do reposicionamento colectivo do MLS, o Luis acabou, ironicamente, posicionado no extremo AnCap lá do sítio.
"Seria importante, em termos ambientais, reduzir drasticamente o número de semáforos. As pessoas devem ser lives de avançar... por sua conta e risco, ou seja, exigindo-se-lhes prudência. A permissão de virar à esquerda precisa de ser muito limitada. As ruas secundárias devem ser entendidas como sendo de trânsito meramente local, logo, os carros que delas vêem não devem estar protegidos por semáforos."Gosto especialmente das limitações nas viragens à esquerda. Acho que tal não cairá bem lá no MLS.
Etiquetas: humor
02 julho 2007
A Arte da Fuga
Três anos é obra. Parabéns ao António Costa Amaral e ao Adolfo Mesquita Nunes pelo excelente "A Arte da Fuga".