Crónica do Migas
Beneath this mask there is more than flesh. Beneath this mask there is an idea, Mr. Creedy, and ideas are bulletproof.

17 julho 2006

 

Desigualdade e Robin Hood


Na sua edição de 17 de Junho, o Economist publicou uma reportagem sobre a desigualdade na América, chamado "Inequality and the American Dream" (link aqui para utilizadores registados). No Speakers Corner, o Miguel Duarte comenta uma frase retirada desta reportagem, com a qual diz concordar:
"Inequality is not inherently wrong—as long as three conditions are met: first, society as a whole is getting richer; second, there is a safety net for the very poor; and third, everybody, regardless of class, race, creed or sex, has an opportunity to climb up through the system."
O comentário do Miguel é basicamente ele achar que os liberais mais "puristas" considerariam esta frase "social-democrata". Como não tenho muito jeito para meias-palavras, não tenho a certeza de quem é que ele está a pensar. De qualquer modo, vejo aqui alguns pontos a comentar.

Em primeiro lugar, e relativamente importante, a tradução apresentada pelo Miguel refere os mais pobres, enquanto o Economist refere-se aos muito pobres. Os indicadores usados são relativos, pelo que em qualquer sociedade, por mais rica que seja, e menos desigual, sempre existirão uns que sejam mais pobres que os outros. Estou certo que a maioria dos liberais concorda com uma safety net para os muito pobres (ou que presumivelmente são persistentemente incapazes de sair desse estado, pelas mais variadas razões).

Bastante mais importante é que a própria análise do Economist sofre de um problema típico: emite um parecer que ignora as causas da desigualdade. A desigualdade é apenas um sintoma. Usando exemplos exagerados para tornar clara a diferença, empreendedores de sucesso que acumulam fortunas têm um impacto económico e social que não tem nada a ver com o de ditadores milionários de repúblicas das bananas. Enquanto os primeiros criam riqueza, os segundos são rent-seekers. Os primeiros produzem e investem, "ajudado" os seus concidadãos a melhorar de vida; os segundos limitam-se a transferir riqueza dos bolsos dos outros para os seus.

O mito de Robin Hood é igual. A mensagem que os invejosos tiram é que ele roubava dos ricos para dar aos pobres. O que eles esquecem é que esses ricos tinham eles próprios se apropriado indevidamente da riqueza. Robin Hood não era um ladrão, era um liberal "com pendor radical", que pôs a mão na massa para retomar os impostos excessivos do "estatista" Rei João e do seu sheriff.

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Bocas:
"Estou certo que a maioria dos liberais concorda com uma safety net para os muito pobres"

Se te referes à maioria dos liberais por essa Europa fora, sim. Se te referes à maioria daqueles que se apelidam de liberais "clássicos" em Portugal, estás enganado.
 
- You stole them?
- Heavens, no. Stealing imples ownership. You can't steal from a censor; I merely... reclaimed them.

(o que eu gosto de ler arquivos de blogues recentemente descobertos!)
 

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