25 março 2008
Operação Páscoa
Consta que este ano houve «Mais mortos do que em 2007» durante o período da Páscoa. Na estrada, isto é. O facto de ser mais um (sete versus seis) não devia dar direito ao uso do plural, mas enfim. Ainda assim o meu título favorito é o da TVI, que diz que «Operação Páscoa provoca 5 mortos e 11 feridos». Malandros da GNR, a provocar acidentes. O curioso de todo este espalhafato é outro, com bastante mais significado estatístico, pois a «BT levantou mais de 3.500 contra-ordenações»:
«A Brigada de Trânsito (BT) da Guarda Nacional Republicana (GNR) levantou 3.537 autos de contra-ordenação durante os quatro dias da Operação Páscoa, na maioria por excesso de velocidade e condução sob o efeito de álcool. (...) foram detectados 184 condutores sob o efeito de álcool, (...) ainda 149 processos de contra-ordenação por falta de uso do cinto de segurança, principalmente nos assentos traseiros, (...) várias outras infracções como o uso de telemóvel, a circulação na faixa central em auto-estrada e falta de seguro das viaturas.» - Diário Digital
Este enfoque tão grande na morte na estrada, com a respectiva acção "repressiva" e "punitiva", especialmente sobre os automóveis, ignora aspectos importantes; nomeadamente o facto de quase metade dos mortos em acidentes de viação em Portugal serem peões e condutores de veículos de duas rodas. Só nesta Operação Páscoa, de acordo com o artigo do Diário Digital, quatro dos sete mortos ocorreram em colisões de automóveis e bicicletas. Mas aparentemente o que interessa é andar atrás de quem circula na faixa do meio na auto-estrada, ainda por cima com passageiros traseiros sem cinto de segurança.
Na vizinha Espanha, morreram 63 pessoas durante a Semana Santa. E o impressionante não é este número elevado, mas antes o facto de representar uma queda de 40% face a 2007. Pela primeira vez o número foi inferior a 100. É preciso ter em atenção que as 63 vítimas mortais ocorreram num período de dez dias, comparando com as sete vítimas portuguesas em quatro dias. Para o período exactamente igual, quinta-feira a domingo, morreram nas estradas espanholas 34 pessoas. Tendo em conta a dimensão da população e parque automóvel, apesar das amostras serem demasiado pequenas para tirar conclusões, isto parece confirmar que a sinistralidade rodoviária portuguesa já não é muito diferente de outros países europeus semelhantes. Uma análise mais detalhada pode ser vista aqui.
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