21 novembro 2006
O que vale é que o Atlas tem as costas largas
Há uns anos, quando dei a ler o Atlas Shrugged a alguns amigos, estes comentaram que haviam coisas inverosímeis no livro. As mais referidas eram algumas das intervenções estatais, como a legislação que violava a patente do Rearden Metal ou a que era aprovada para beneficiar este ou aquele grupo de pressão. Na sua ingenuidade nascida da cultura social-democrata, onde o estado é sempre bem intencionado e zela pelos fracos e oprimidos, que lavou o cérebro a uma ou duas gerações inteiras nos anos 70 e 80, não aceitavam que tais medidas fossem possíveis.
É curioso ver como a realidade por vezes ultrapassa a ficção. No Domingo deu na RTP o filme sobre a vida de Howard Hughes, onde a corrupção dos lobbies que supostamente zelam pelo "bem comum" é bem patente. A PanAm quase conseguiu forçar a falência da TWA com a introdução de legislação, patrocianada pelo Senador Owen Brewster, que concedia um monopólio à PanAm para vôos internacionais. Coisa mais teoricamente unamerican não há. Para bem da aviação americana a lei não passou no congresso. Embora, pela forma como posteriormente Hughes se vingou de Brewster (apoiando financeiramente um candidato alternativo ao senado), não seja de excluir que também tenha existido lobby para os lados dele... De qualquer modo, o momento em que Brewster afirma que o chairman da PanAm é um "grande homem que não é motivado pelo lucro" e Hughes comenta que "os seus accionistas vão gostar de ouvir isso", é delicioso. Mas Howard Hughes deu-se bem. Tal como J. J. Hill, da Great Northern Railroad, a quem também tentaram fazer a vida negra. Pior destino teve Preston Tucker, "arrumado" pelos "três de Detroit", sobre quem também fizeram um filme.
Por cá também se vão fazendo uma boas, embora o tamanho do mercado torne as coisas mais modestas em escala. A ofensiva populista contra a banca; os subsídios e benefícios fiscais a algumas empresas, em detrimento de outras; os concursos públicos feitos à medida desta ou daquela empresa; a mudança das regras do jogo neste ou naquele sector em benefício de determinadas empresas. Enfim, a arbitrariedade que tanto poder dá a quem a pode praticar. Tudo no interesse do "bem comum", claro. All animals are equal...
Etiquetas: individualismo, objectivismo