Crónica do Migas
Beneath this mask there is more than flesh. Beneath this mask there is an idea, Mr. Creedy, and ideas are bulletproof.

20 novembro 2007

 

Preconceitos, Colectivismo e Determinismo


(também postado n'O Insurgente)

No meio da maré de críticas a Pedro Arroja pelos seus posts sobre "os judeus" no Portugal Contemporâneo, ainda não vi argumentos que pareçam realmente entender a razão pela qual os preconceitos raciais são errados. Já na anterior celeuma relativamente às declarações de James Watson sobre eventuais diferenças na inteligência entre raças foi a mesma coisa. Exceptuando este post no De Rerum Natura, que toca nos pontos essenciais, embora eu não esteja totalmente de acordo com tudo o que lá está. [Adenda: Também aqui o Rui A havia escrito sobre o assunto, expondo essencialmente as mesmas ideias que aqui escrevo.]

A maior parte dos ataques a Arroja (tal como a Watson) fazem implicitamente recurso a proposições puramente infantis, do género "os nazis era racistas; os nazis eram maus; logo o racismo é mau" ou "o racismo teve efeitos terríveis no passado; logo qualquer preconceito racial devia ser crime". No caso de Watson a coisa vai até mais longe, chegando ao "o racismo é mau; logo qualquer afirmação que aparente ser racista é logicamente falsa".

O que é criticável nas análises de Pedro Arroja não é que ele seja uma qualquer espécie de nazi anti-semita. Acusá-lo disso é um disparate. O seu problema principal é uma tendência colectivista e determinista na análise que tolda quase todas as suas conclusões. Além disso, há também a questão do uso de meias-verdades, ou escolha selectiva dos factos apresentados, com o objectivo de suportar as suas teses, embora isso já seja outro assunto.

Quase tudo o que Pedro Arroja escreve é "grupal". As análises procuram sempre características colectivas em grupos, sejam "os católicos", "os protestantes", "os brasileiros", "os judeus", "os negros" ou "os ateus", entre outros. Nada de errado em verificar características comuns a grupos, caso contrário podíamos deitar fora a sociologia (no great loss, dirão alguns, eh eh). O problema está no retirar de conclusões sobre membros individuais a partir dessas características de grupo. E aqui entra o seu típico determinismo: Quase todos os seus artigos tiram conclusões do género "as características do grupo X fazem necessariamente que os seus membros ajam de determinada forma" ou "o país Y tem uma cultura tal, logo só um governo do tipo Z funcionará por lá".

O problema dos preconceitos raciais está aí. Na falta de respeito pelo indivíduo que está implícita no seu julgamento em função da etnia a que pertence. Daí que as correntes politico-filosóficas colectivistas sejam as menos bem colocadas moralmente para criticar preconceitos raciais (ou mesmo outros, como sexuais, profissionais, nacionais, etc). Já quem defende o indivíduo acima do colectivo está inerentemente a censurar tais preconceitos.

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