Crónica do Migas
Beneath this mask there is more than flesh. Beneath this mask there is an idea, Mr. Creedy, and ideas are bulletproof.

14 dezembro 2006

 

Carecas Destapadas


A propósito da eventual descriminização do cheques "carecas" é interessante ver alguns descuidos de linguagem e erros factuais que mostram o que vai na cabeça dos jornalistas que escrevem as notícias sobre o assunto.

Quase ninguém dá relevância ao aspecto essencial de que os bancos hoje em dia são arbitrariamente obrigados a pagar cheques até 150(!) Euros. Mesmo que não tenham provisão. E que isso irá acabar. Em contrapartida, todas as notícias dão relevo ao facto dos cheques "carecas" deixarem de "dar prisão". É uma espécie de sonho surreptício de ter uma "licença" para imprimir dinheiro...

No Diário Económico, que foi quem, julgo eu, deu a notícia em primeira mão, chega mesmo a haver uma contradição no artigo. Ao mesmo tempo que se lê uma citação de João Salgueiro a concordar com a medida anunciada pelo governo, e que diz "Só o fim da obrigatoriedade de pagamento e a descriminalização poderão contribuir para a redução das situações de abuso no uso de cheques", lê-se também, nas supostas medidas em curso, que para os cheques sem provisão, "Deixou de ser penalmente tutelado o cheque até 150 Euros e estabelece-se a obrigatoriedade de pagamento pelos bancos dos cheques que apresentem falta ou insuficiência de provisão inferior a este valor." Será que quem escreveu isto não vê a contradição?

A "calinada" é ainda mais difícil de entender tendo em conta que no mesmo jornal, a redactora Sílvia de Oliveira escreve outro artigo sobre o mesmo tema, onde o fim da obrigatoriedade de pagamento é claramente expresso. Aqui, o artigo acaba a interrogar se o melhor não seria mesmo acabar com os cheques. Esta pergunta mostra também uma maneira de pensar. Que necessidade haveria de tomar essa medida? Uma vez levantada a absurda obrigatoriedade de pagamento de cheques sem provisão, os bancos estarão livres de criarem o seu próprio sistema de garantias para os cheques. Assumindo que haverão clientes que estejam interessados. É o que acontece, por exemplo, no Reino Unido, onde as pessoas que passam cheques podem mostrar ao retalhista um cartão de garantia emitido pelo banco. Claro que nem todos recebem estes cartões do seu banco. Não há almoços grátis.

Etiquetas: ,


Bocas:
Enviar um comentário

<- Página Principal