04 setembro 2007
Re: A evolução da inveja e da infelicidade
Neste post, João Miranda expõe um cenário de competição entre duas categorias de personalidades hipoteticamente determinadas ao nível genético. Uma contente com um nível de vida mínimo (chamemos-lhes pombas) e uma "invejosa", que apenas é feliz se estiver melhor que as restantes (chamemos-lhes falcões). A conclusão do João é que os falcões tenderão a dominar (isto é, propagarão mais os seus genes).
Creio que esta conclusão está errada, embora seja difícil argumentar na medida em que o cenário não define variáveis essenciais para determinar o comportamento de ambos os grupos:
1) A proporção, à partida, dos dois grupos na população total é desconhecida.
2) A definição do nível absoluto Xp, que satisfaz as pombas, é desconhecido.
3) O valor, ou mesmo o tamanho relativo, de d, em Xp + d = Xf, que permite determinar o nível que satisfaz os falcões, é desconhecido.
4) O nível de agressividade potencial não é definido. Qual seria o comportarmento dos grupos perante a escassez de recursos face às suas expectativas?
A afirmação do João de que as pombas serão eliminadas por erro de esforço é essencial para o seu raciocínio e precisa de ser demonstrada. À partida, os alvos das pombas são mais bem definidos pois são absolutos. São os falcões que perseguem alvos relativos e que evoluem em função da proporção dos dois grupos na população total. Ou seja, mais facilmente os falcões errariam na "dosagem" de esforço que as pombas.
Intuitivamente, o equilíbrio dependerá da proporção relativa das duas populações. Isto é, se existirem muito mais falcões que pombas, a concorrência interna nesse grupo será dominante e a maioria dos indivíduos será infeliz. Isto sugere que este equilíbrio seria instável, podendo, por exemplo, levar a um mais rápido consumo dos recursos escassos. Alternativamente, existindo muito mais pombas, os falcões manteriam a sua vantagem comparativa sem concorrência interna, o que segere alguma estabilidade.
Etiquetas: teoria de jogos