Crónica do Migas
Beneath this mask there is more than flesh. Beneath this mask there is an idea, Mr. Creedy, and ideas are bulletproof.

19 junho 2007

 

Barbarians at the gate I


Em mais um exemplo de refrescante iliteracia económica, o subtractor de velocípedes Nuno Teles pergunta (a respeito dos fundos de Private Equity):
"Este lucrativo mecanismo não é novo, mas realça algumas [d]as insuficiências do mercado como mecanismo de coordenação da economia. Supõe-se que a Bolsa de Valores fornece uma avaliação permanente do valor de cada empresa listada, da sua gestão e das suas perspectivas futuras. Se há oportunidades por explorar, como é que o mercado bolsista se deixa ultrapassar por estes fundos de Private Equity que de forma deliberada retiram estas empresas do escrutínio, supostamente eficiente e racional, dos mercados financeiros?"
No Small Brother, o Ricardo, o JLP e o FMP deram excelentes respostas, mas como esta deixa é demasiado boa para desperdiçar, aqui ficam os meus "dois cêntimos".

Os investimentos de Private Equity são essenciais a um bom funcionamento dos mercados de capitais. Eles não existem para explorar falhas do mercado. Eles fazem parte integrante dele, são um dos seus mecanismos. O seu papel é o de facilitarem a reorganização da estrutura de capital de determinadas empresas como forma de extrair maior rentabilidade dos seus activos. Fazem-no ao nível de investimentos particulares em empresas não cotadas em bolsa, daí o adjectivo "private", e também através de operações que pegam numa empresa cotada ("pública" no sentido anglo-saxónico de livremente transaccionada) e a retiram da bolsa, sendo este último o enfoque da pergunta acima de Nuno Teles.

O interesse dos fundos em retirar as empresas da bolsa advém de múltiplos factores. Em primeiro lugar, existe um custo operacional significativo de manter a "listagem". Normas burocráticas a ser cumpridas que deixam de fazer sentido quando a posse da empresa está concentrada em poucas mãos. Por sua vez, o interesse dos fundos em concentrar a posse da empresa em poucas mãos advém da flexibilidade resultante na tomada de decisões fundamentais que alterem a estrutura de capital da empresa e que por isso estariam sujeitas a complexos pactos accionistas no caso de posse dispersa.

Ao longa da vida de uma empresa, esta atravessa fases de evolução que requerem determinadas opções na elaboração da sua estrutura de capital ou financiamento para atingir os seus fins. Assim, uma empresa que começa não vai logo para a bolsa, nem recorre a um empréstimo obrigacionista, por exemplo. Já uma empresa em franco crescimento pode retirar vantagens de abrir o seu capital ao público como forma de diversificar o risco dos seus accionistas iniciais. De igual modo, empresas estáveis com perspectivas de pouco crescimento, estagnação, ou mesmo ligeira regressão, podem ser melhor servidas por uma estrutura de capital alavancada, onde os cash flows estáveis da empresa são usados para remunerar e amortizar dívida.

O facto das operações, tipicamente Leveraged Buyouts, envolvendo estes fundos gerarem grandes diferenças face ao valor de mercado pré-anúncio, não é falha de mercado. Pelo contrário, é um exemplo de como os agentes no mercado agem de forma maioritariamente racional. Enquanto na bolsa as acções das empresas são transaccionadas ao seu valor marginal, para o comprador numa OPA, as acções valem o preço equivalente da posição de controlo ou mesmo da totalidade da empresa, incluindo as alterações estratégicas que potenciem criação de valor, nomeadamente a eliminação da "listagem", o aumento da eficiência ou mudanças nas políticas de investimento.

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Bocas:
Muito bem.
 
"O interesse dos fundos em retirar as empresas da bolsa advém de múltiplos factores. Em primeiro lugar, existe um custo operacional significativo de manter a "listagem". Normas burocráticas a ser cumpridas que deixam de fazer sentido quando a posse da empresa está concentrada em poucas mãos."

Sarbanes-Oxley, anyone...?

Serviço público, caro Migas.
 
Bom, cheguei aqui procurando um local que oferecesse download do filme cujo titulo e homonimo desta thread , não consegui encontrar a thread inteira entao deixo minha opiniao baesada apenas no que li e reproduzo abaixo do meu comentario.



A violencia da resposta e bem brasileira, parece que o sangue mulato se compraz na destruicao do ego do oponente e usa argumentos leves como verdade universal vence quem for mais agressivo já que o embasamento não faz parte da vida do brazuca a pseudo cultura e arrogancia eh a pauta. A questao do Nuno Teles me pareceu normal ele não pretendeu ser “final” na sua questao apenas levantou a questao teorica de que se o mercado aberto da capital deveria ser a solucao final para as grandes empresas porque o contra fluxo aparece na atualidade, a resposta esta na evolucao do capitalismo o tempo do big money esta findo as grandes corporacoes tornan-se cada vez mais elefantes brancos porque a evolucao tecnologica não so permite como torna pequenas unidades de producao mais eficientes que os grandes conglomerados do passado, o problema e o grnade volume de moeda entesourado sem saida visivel já que seus detentores não desejam financiar o producao horizontalizada insiste em tentar manter as “multi” . O que vemos hoje e grandes massas de capital “ronin” procurando na especulacao financeira não so sobrevivencia como remuneracao escandalosa na base do “amanha não tem mais..” os junk bonds as privates equitities etc e a atual crise anunciada nada mais são que o fim de uma era, o capital conseguiu imobilizar os governos e promover um brutal fim de festa onde a lucratividade não e real mas forcada o que leva natural e forcosamente a explosao da bolha quanto mais tarde mais estragos a serem consertados, enfim a real questao e a remontagem do parque produtivo e não as ferramentas financeiras que apoiaram o passado bolsas e adjacencias tornaram-se e são agoras apenas balcoes de especulacao já que o real mercado esta a deriva, situacao otima para “inteligentes” criarem cada vez mais “mecanismos” que suplementem bolsas etc ...mas parece que o fim da festa esta chegando .. quando diremos o rei esta morto viva orei? Ou entao talvez no momento soe melhor uma citacao biblica... caiu caiu babilonia!! ...pois eh, que venha o mercado do futuro!


Barbarians at the gate I
Em mais um exemplo de refrescante iliteracia económica, o subtractor de velocípedes Nuno Teles pergunta (a respeito dos fundos de Private Equity):
"Este lucrativo mecanismo não é novo, mas realça algumas [d]as insuficiências do mercado como mecanismo de coordenação da economia. Supõe-se que a Bolsa de Valores fornece uma avaliação permanente do valor de cada empresa listada, da sua gestão e das suas perspectivas futuras. Se há oportunidades por explorar, como é que o mercado bolsista se deixa ultrapassar por estes fundos de Private Equity que de forma deliberada retiram estas empresas do escrutínio, supostamente eficiente e racional, dos mercados financeiros?"
No Small Brother, o Ricardo, o JLP e o FMP já deram excelentes respostas, mas como esta deixa é demasiado boa para desperdiçar, aqui ficam os meus "dois cêntimos".

Os investimentos de Private Equity são essenciais a um bom funcionamento dos mercados de capitais. Eles não existem para explorar falhas do mercado. Eles fazem parte integrante dele, são um dos seus mecanismos. O seu papel é o de facilitarem a reorganização da estrutura de capital de determinadas empresas como forma de extrair maior rentabilidade dos seus activos. Fazem-no ao nível de investimentos particulares em empresas não cotadas em bolsa, daí o adjectivo "private", e também através de operações que pegam numa empresa cotada ("pública" no sentido anglo-saxónico de livremente transaccionada) e a retiram da bolsa, sendo este último o enfoque da pergunta acima de Nuno Teles.

O interesse dos fundos em retirar as empresas da bolsa advém de múltiplos factores. Em primeiro lugar, existe um custo operacional significativo de manter a "listagem". Normas burocráticas a ser cumpridas que deixam de fazer sentido quando a posse da empresa está concentrada em poucas mãos. Por sua vez, o interesse dos fundos em concentrar a posse da empresa em poucas mãos advém da flexibilidade resultante na tomada de decisões fundamentais que alterem a estrutura de capital da empresa e que por isso estariam sujeitas a complexos pactos accionistas no caso de posse dispersa.

Ao longa da vida de uma empresa, esta atravessa fases de evolução que requerem determinadas opções na elaboração da sua estrutura de capital ou financiamento para atingir os seus fins. Assim, uma empresa que começa não vai logo para a bolsa, nem recorre a um empréstimo obrigacionista, por exemplo. Já uma empresa em franco crescimento pode retirar vantagens de abrir o seu capital ao público como forma de diversificar o risco dos seus accionistas iniciais. De igual modo, empresas estáveis com perspectivas de pouco crescimento, estagnação, ou mesmo ligeira regressão, podem ser melhor servidas por uma estrutura de capital alavancada, onde os cash flows estáveis da empresa são usados para remunerar e amortizar dívida.

O facto das operações, tipicamente Leveraged Buyouts, envolvendo estes fundos gerarem grandes diferenças face ao valor de mercado pré-anúncio, não é falha de mercado. Pelo contrário, é um exemplo de como os agentes no mercado agem de forma maioritariamente racional. Enquanto na bolsa as acções das empresas são transaccionadas ao seu valor marginal, para o comprador numa OPA, as acções valem o preço equivalente da posição de controlo ou mesmo da totalidade da empresa, incluindo as alterações estratégicas que potenciem criação de valor, nomeadamente a eliminação da "listagem", o aumento da eficiência ou mudanças nas políticas de investimento.
 

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