Crónica do Migas
Beneath this mask there is more than flesh. Beneath this mask there is an idea, Mr. Creedy, and ideas are bulletproof.

30 abril 2008

 

Someone else's mojo is also working


Fazem hoje 25 anos que faleceu Muddy Waters. McKinley Morganfield, era este o seu verdadeiro nome, nasceu em Rolling Fork, no Mississippi, a 4 de Abril de 1915. Cresceu em Clarksdale, uma pequena cidade rural, também no Mississippi, onde trabalhava no campo. Mas as suas ambições iam mais além. Os últimos anos da adolescência de Muddy Waters, alcunha que havia entretanto adquirido, viram-no a dirigir uma destilaria de whiskey caseiro...

Mas a musica fazia também parte da sua vida, tocando ocasionalmente nas chamadas juke-joints. O passo crucial, na passagem do amadorismo para uma carreira profissional, veio em 1941, quando Alan Lomax, da Biblioteca do Congresso Americano, foi ao Mississippi para tentar gravar os trabalhos de Robert Johnson. Lomax chegou atrasado... Johnson havia morrido três anos antes. Para não perder a viagem, perguntou nas redondezas quem mais poderia estar interessado em gravar, e Elmore James recomendou Muddy Waters. Apesar das gravações não terem intuitos comerciais, Muddy ficou de tal modo impressionado pelo seu som a sair de um altifalante que imediatamente decidiu seguir uma carreira profissional.

A sua carreira atingiria o topo em Chicago, na editora Chess, de Willie Dixon. Podemos vê-lo aqui com James Cotton (na harmónica), em Got My Mojo Working.

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25 abril 2008

 

Born under a bad sign


Há 85 anos, nasceu Albert King. Um dos três "reis" dos blues (mais B.B e Freddie, sem qualquer relação familiar). Aqui está ele com "Lucy", a sua famosa Gibson Flying V.

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20 abril 2008

 

Worried life blues


Depois do impressionante resultado do Sporting em Leiria esta noite, nada mais apropriado que este Worried life blues, o clássico de Maceo Merriweather, numa versão de Robben Ford.

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16 abril 2008

 

Ortografias


O acordo ortográfico é mesmo essencial para a sobrevivência da língua portuguesa. A história está pejada de exemplos de línguas que morreram por não se adaptarem aos tempos modernos, por não se tornarem homogéneas e consistentes. Neste contexto, deixo aqui um breve exemplo de uma língua sem nenhuma importância e cujo declínio foi causado pela dificuldade de partilhar textos editados nos dois lados do oceano.

Versão do Velho Continente: Johnny’s favourite friday night programme is to go to a movie theatre. He usually goes to the local shopping centre, just up the road, at Marlborough. Although he also has a large TV at home, where he could watch movies wearing his pyjamas, there is nothing like the full colour and close dialogue experience of the silver screen.

Johnny is a little barmy about movies. At least that’s what his mum says. He’s memorised lines from all genres of movies from the mediaeval to science fiction. He knows everything about the stars, from the young starlet to the ageing jewellery-clad femme fatale. As a fan of aviation, his speciality, he also delights in movies that show the skilful art of manoeuvring aeroplanes.

The theatre up at Marlborough, however, is a bit draughty, due to the aluminium ceiling. But the show is worth ploughing through. In it’s defence, it should be said that being about 300 metres away from his front door, it could hardly better fulfil the role, in Johnny’s judgement.

Versão do Novo Mundo: Johnny’s favorite friday night program is to go to a movie theater. He usually goes to the local shopping center, just up the road, at Marlboro. Although he also has a large TV at home, where he could watch movies wearing his pajamas, there is nothing like the full color and close dialog experience of the silver screen.

Johnny is a little balmy about movies. At least that’s what his mom says. He’s memorized lines from all genres of movies from the medieval to science fiction. He knows everything about the stars, from the young starlet to the aging jewelry-clad femme fatale. As a fan of aviation, his specialty, he also delights in movies that show the skillful art of maneuvering airplanes.

The theater up at Marlboro, however, is a bit drafty, due to aluminum ceiling. But the show is worth plowing thru. In it’s defense, it should be said that being about 300 meters away from his front door, it could hardly better fullfil the role, in Johnny’s judgment.

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12 abril 2008

 

You ain't nothin' but a Hound Dog Taylor


Se fosse vivo, Hound Dog Taylor faria hoje 93 anos. Fica aqui um video deste bluesman do Mississippi, onde aparece o também lendário Little Walter. A Hound Dog Taylor deve-se o facto de ter sido a inspiração para Bruce Iglauer lançar a Alligator Records, sem a qual os blues não teriam visto tantos novos talentos alcançar o sucesso e tantos velhos talentos ressurgirem das cinzas.

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10 abril 2008

 

Liberdade sem dicotomias III


O Ricardo Alves queixou-se de eu não ter lhe respondido sobre o que é a “liberdade económica”. Devo confessar que pensei que era uma pergunta retórica. Quando ele perguntou se tal coisa seria «A “liberdade” de não pagar impostos? A “liberdade” de pagar salários baixos? A “liberdade” de despedir mais facilmente?» pensei que era uma forma, apesar de equivocada, de fazer uma argumentação reductio ad absurdum. Parece que não, pelo que vou de seguida responder. Folgo, pelo menos, que a alegada contradição no meu argumento original já está esclarecida.

É difícil separar o conceito de liberdade económica do conceito genérico de liberdade. Na verdade, os pressupostos que servem de base à liberdade económica são eles próprios elementos essenciais da liberdade como um todo. Estes são: (i) o domínio da lei (rule of law), incluindo a igualdade de todos perante a lei, a sujeição do estado à lei e a previsibilidade da mesma; (ii) o respeito pelo direito de cada indivíduo à propriedade e integridade da sua pessoa, incluindo o produto do seu trabalho, a capacidade de acumular riqueza criada sob a forma de propriedade e de fazer uso desta em transmissão livre e voluntária; e (iii) o direito à interacção livre e voluntária entre indivíduos, incluindo o direito destes a estabelecer as regras (contratos) que regerão essa interacção, e que terão protecção da lei (ou de outros mecanismos de arbitragem voluntariamente aceites).

Existem alguns corolários destes princípios no âmbito económico, daí falar-se em liberdade económica. A liberdade de iniciativa (p.ex. criar uma empresa) ou a liberdade de escolha de profissão (ao contrário de outros tempos em que determinados indivíduos estavam barrados por nascimento a aceder a certas actividades).

Quando o Ricardo Alves pergunta pela liberdade de “pagar salários baixos” ou de “despedir mais facilmente”, está a assumir que a relação é coerciva. À liberdade de um empregador de não contratar determinado indivíduo por este pretender um salário demasiado alto, corresponde a liberdade deste último não aceitar um salário demasiado baixo. A transacção é voluntária. Quando existir interferência na liberdade das partes acordarem um preço, o mais provável é que se deixe de fazer a transacção. Igual lógica se aplica ao despedimento. As condições de terminar um contrato devem estar previstas no mesmo e ser livremente aceites pelas partes. Quanto maior a interferência, menos provável a transacção.

Já a questão de pagamento de impostos é de natureza diferente. É evidente que o estado necessita de financiamento. Se impostos sobre o rendimento e consumo são a forma mais eficiente de o fazer é algo que foge ao âmbito da definição de “liberdade económica”. O problema está na altura em que esses impostos se tornam opressivos (a própria origem do termo “imposto” diz muito). Isto é, quando violam o domínio da lei, o direito de propriedade ou o direito de interagir de forma livre e voluntária.

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09 abril 2008

 

O Catolicismo e o Liberalismo


A pergunta do André Abrantes Amaral e a dúvida do Carlos Abreu Amorim têm a resposta dentro da própria definição dos termos usados. Na verdade, e apesar de não partilhar o entusiasmo algo selectivo do Pedro Arroja com o catolicismo, é impossível negar que a história e desenvolvimento filosófico do liberalismo estão inexoravelmente ligadas com o catolicismo. Dito isto, é também inegável que a maior parte dos católicos está longe de ser liberal.

Desde o conceito da alma individual e do livre arbítrio, da função de contra-poder da igreja durante a idade média, da Magna Carta, que teve no Arcebisco de Cantuária Stephen Langton um dos seus principais redactores, à reabilitação do pensamento aristotélico por S. Tomás de Aquino, até aos escolásticos de Salamanca, no liberalismo abundam influências católicas.

A secularização do debate filosófico é que tem afastado os católicos da corrente liberal na sua história. Num ambiente culturalmente colectivista, não surpreende que muitos católicos absorvam muitas das ideias dominantes. Quando o Pedro Arroja acusa Ayn Rand de ser predominantemente anti-católica (onde, a propósito de colectivismo, vai aplicando sempre as suas generalizações sobre judeus), esquece de referir o porquê das opiniões de Rand face ao catolicismo, nomeadamente a sua crítica à encíclica Populorum Progressio de Paulo VI, um documento próximo do socialismo ou, no mínimo, equivocado quanto ao capitalismo e à realidade.

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08 abril 2008

 

Hating the good for being good


No Sábado passado fizeram cem anos sobre o nascimento de Herbert von Karajan, o maestro austríaco. O Público fez um artigo especial sobre o tema e convidou duas pessoas para dar a sua opinião sobre Karajan. Uma positiva e outra negativa. A negativa, de Pedro Boléo, é um destilar de veneno contra o homem, com as sempre obrigatórias referências à ligação de Karajan ao partido nazi, como se tal tivesse algo a ver com o seu mérito artístico. Vários dos meus artistas favoritos são ou eram de esquerda; isso não muda a minha opinião sobre o seu trabalho. Karajan era vaidoso. Provavelmente díficil, se não impossível, no trato. Egocêntrico. Tudo aquilo que uma cultura colectivista detesta.

A positiva, de Nuno Vieira de Almeida, é premonitória:
«(...) infelizmente nós por cá, liderados por opinion makers que não têm a menor autoridade para falarem, temos algum prazer em denegri-lo por uma série de razões extra musicais.»

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02 abril 2008

 

Bonnie and slide


Não há voz como a de John Lee Hooker. Em 1989, já com 72 anos de idade, lançou The Healer, com o qual ganhou um Grammy. Entre os colaboradores no album estavam Robert Cray, Charlie Musselwhite, George "B-b-b-bad" Thorogood e Carlos Santana. Nele constava ainda este I'm in the mood, onde participa Bonnie Raitt.

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