Crónica do Migas
Beneath this mask there is more than flesh. Beneath this mask there is an idea, Mr. Creedy, and ideas are bulletproof.

30 agosto 2006

 

O Espantalho do Retalho


Via Economist, chega a notícia de que a Wal-Mart vai abandonar as operações na Alemanha, vendendo à Metro AG. Com esta operação, a Wal-Mart irá levar às contas de exploração um prejuízo de mil milhões de dólares. Depois do anterior abandono do mercado sul-coreano em Maio deste ano, esta é mais uma manifestação dos erros da líder norte-americana do sector do retalho na sua expansão internacional.

Interrogo-me com que cara estarão os iluminados opinion makers que há poucos anos afirmavam a urgência de consolidação no retalho europeu como forma de fazer frente ao gigante americano. Em França, chegou mesmo a ocorrer a fusão entre a Promodés e o Carrefour, tendo na altura a "questão Wal-Mart" sido uma das justificações apresentadas pelos gestores dos retalhistas franceses, claramente influenciados pelos banqueiros à procura de negócios de fusões e aquisições e pelos gestores de bancada que enchem os jornais e revistas da especialidade. Devem estar com a mesma cara de pau, seguramente. Ainda está para vir o dia em que algum analista de Wall Street, autor de op-ed ou consultor de estratégia responde com a sua reputação pelos tiros-ao-lado que dá ao veicular opiniões bullish sobre empresas e os seus negócios. Basta ver os Blodgets e Meekers do mundo outra vez na mó de cima depois de terem queimado biliões de dólares aos seus clientes há meia dúzia de anos.

Cá no burgo não é diferente, e há uns anos também se falou numa fusão Modelo e Continente (Sonae) com a Jerónimo Martins. A motivação seria ou antecipar um possível interesse da Wal-Mart num deles ou criar um "campeão nacional" para o sector, que mais facilmente faria face ao bogeyman estrangeiro. Deve ter tido também seguramente algo a ver com a obsessão com a "manutenção dos centros de decisão".

Enfim, as ameaças invencíveis como a Wal-Mart só são invencíveis até ao dia em que são derrotadas. Agora, provavelmente, os gurus do costume irão denunciar todos os pontos fracos da Wal-Mart e explicar o seu declínio inevitável... Para dar uma ajuda, cito o artigo do Economist, que aponta algumas das razões apontadas para o insucesso da Wal-Mart na Alemanha, originalmente publicadas em 2003 no âmbito de um estudo elaborado por investigadores da Universidade de Bremen, que julgaram o caso da Wal-Mart como um "textbook case of how not to enter a foreign market" (negritos meus):
"The first error was to appoint a boss for Germany who spoke no German. Not only that, he insisted that his managers work in English. The next boss, an Englishman, tried to run the show from England. The men at the top misunderstood both the employees and the customers. German shoppers like to hunt for bargains on their own, without smiling assistants at their elbows. Other surprises for Wal-Mart were Germany's short shopping hours, including almost no Sunday trading, and fierce competition from Aldi and Lidl, two discount chains. Kaufland, Lidl's sister operation, was in direct competition with Wal-Mart's hypermarkets."

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28 agosto 2006

 

Extremos


"Extremism in the defense of liberty is no vice. Moderation in the pursuit of justice is no virtue." - Barry Goldwater (discurso escrito para o senador por Karl Hess, citando, supostamente, Cícero).

Um post do André Azevedo Alves n'O Insurgente gerou várias observações interessantes na caixa de comentários, sobre direita e esquerda, extrema-esquerda e extrema-direita, etc. Destaco estes comentários do LA-C e do RAF.

Como já referi anteriormente, um eixo unidimensional é francamente limitativo para classificar opções políticas. Apesar disso, compreendo que é fácil cair nesta armadilha quando toda a gente, em especial os adversários, usa esse referencial.

Ser extremista é defender uma determinada posição de forma inflexível. A expressão adquiriu um significado claramente pejorativo, por vezes injustamente, em grande medida devido à disseminação do relativismo e da apologia do centrismo consensual, mas especialmente face às atrocidades cometidas pelos regimes vistos como de extrema-direita ou de extrema-esquerda (p.ex. Alemanha Nazi, URSS Estalinista, Revolução Cultural na China, etc).

Os liberais são apelidados pelos esquerdistas como direitistas. Não partilhando quase nada com esses esquerdistas, sendo mesmo uma antítese deles, pareceria pacífico que os liberais fossem direitistas. No entanto, tenho enorme dificuldade em ver onde é que as posições normalmente atribuidas à extrema-direita são versões inflexíveis das posições liberais, ou onde é que o liberalismo é uma versão moderada da extrema-direita. Não têm nada a ver...

Julgo improvável que algum esquerdista me resolva este problema. Na verdade, vejo é muito em comum entre o nazismo e o comunismo. Façamos um trato: no dia em que a esquerda assumir que Hitler e Mussolini eram na verdade de extrema-esquerda, eu aceitarei de bom grado o epíteto de direitista. Só aí poderei ser ocasionalmente inflexível sem criar singularidades no espaço-tempo da política.

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24 agosto 2006

 

Oligopólios


Há questões complexas. Qualquer liberal ou defensor da economia livre, à partida, deveria aceitar uma fusão entre a TMN e a Optimus como sendo um acto livre entre os accionistas das duas empresas. Compete apenas aos accionistas determinar a estrutura de capital da sua empresa. Contudo, existe no caso dos operadores móveis um factor adicional que impede um raciocínio tão linear: o seu negócio é um oligopólio concedido e protegido pelo estado.

Podemos, devemos mesmo, questionar a legitimidade do estado para criar estes oligopólios; por vezes, ainda pior, monopólios. Mas a partir do momento em que constatamos a realidade não podemos fechar os olhos e dizer que o que se passa nesses sectores é prerrogativa dos seus accionistas e que devemos "deixar o mercado funcionar". Este mercado não funcionará bem pela simples razão que não é um mercado livre.

É sabido que um oligopólio de três players que passe a duopólio tenderá a evoluir para uma situação de equilibrio com preços mais altos. Cournot identificou este equilibrio há mais de cem anos. A sugestão de que o governo pode atribuir outra licença para "aumentar a concorrência" é risível, tendo em conta o estado de saturação do mercado. Outras medidas que incentivem o aparecimento de um terceiro operador terão de ser bancadas pelos operadores incumbentes (roaming nacional compulsivo, tarifas de interligação fixadas e/ou subsidiadas, etc). Para isso mais vale deixar as coisas como estão, pois mais intervenção e regulação apenas servirá para alimentar a espiral regulatória.

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23 agosto 2006

 

Quis Custodiet Ipsos Custodes?


Interessante o "debate interno" que ocorreu no Small Brother no seguimento deste post do José Barros. Naturalmente, tenho uma opinião próxima da do JLP. Isto apesar de ele usar recorrentemente expressões como "estratégias predatórias emergentes da natureza humana" :-)

A base do debate pode ser resumida nesta citação do JB:
"Que [as medida de segurança contra o terrorismo têm] como risco uma redução das liberdades individuais (sobretudo, da liberdade de circulação, da liberdade de expressão, mas também, eventualmente, da liberdade religiosa) é preço que estarei disposto a aceitar, desde que dentro de certos limites aceitáveis."
Independentemente da definição de "limites aceitáveis", o risco deste tipo de compromisso é mais abrangente do que a luta contra o terrorismo em geral, para não falar especificamente no terrorismo islâmico. Ainda está para vir o estado que desiste voluntariamente de poderes, uma vez adquiridos. A tendência natural do estado é de açambarcar mais poderes, e nem sempre por más razões; infelizmente a maior parte dos políticos acha que sabe o que é melhor para nós, mesmo que isso seja contra a nossa vontade...

As leis anti-terrorismo que têm sido aprovadas, ou pelo menos propostas, no ocidente, em especial nos EUA e no Reino Unido, podem facilmente ser usadas para preservar estados que desviem para a autocracia ao dar-lhes poderes excepcionais para reprimir terroristas e "inimigos do estado".

O poder emana do povo e a sua custódia pelo estado é efémera e sempre dependente do seu consentimento. Adicionalmente, existem limites constitucionais para impedir que a democracia se transforme em "algo mais que dois lobos e um carneiro a votar para escolher o jantar" (James Bovard). Com estas leis anti-terrorismo não será difícil aos lobos classificar o carneiro de terrorista se ele protestar.

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22 agosto 2006

 

X-Rated Cartoons


Via Diário Digital chega a notícia de que, na Inglaterra (where else?) , alguns episódios de "Tom & Jerry" foram criticados por apresentarem as personagens a fumar (negritos meus):
O orgão regulador britânico das comunicações, Office of Communications (Ofcom) recebeu uma reclamação de um espectador que não gostou de ver dois episódios da série em que as personagens fumavam.

A Ofcom afirmou que a empresa Turner, que emite a série de animação, concordou em cortar algumas das cenas em que as personagens aparecem a fumar.
Ficam algumas dúvidas: Isto aplica-se a todas cenas em que eles fumam? Ou excluem-se aquelas em que o Tom fuma um charuto dinamitado pelo Jerry? Podemos concluir que os miúdos podem ver um gato e um rato à luta, a explodirem-se mutuamente com bombas e caçadeiras, e a darem marretadas e machadadas um no outro, mas puxarem de um cigarro ou charuto é que não?

Aguarda-se o lançamento de uma colectânea de DVDs com as versões integrais, só para adultos, dos cartoons "Tom & Jerry". Disponível nos cantos escuros de algumas lojas de DVDs e no mercado negro. Só para maiores de idade, subversivos e de moralidade pouco PC.

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17 agosto 2006

 

Moral e Tolerância


Aproveito o post do Filipe Melo Sousa no Speakers Corner, "Uma Paleta de Tons Cinzentos", para retomar o tema da relação entre a moral, ou ética, com o liberalismo e objectivismo. O contexto pode ser retirado na sequência de um post do Helder n'O Insurgente, da resposta do JLP no Small Brother, das minhas réplicas (1 e 2) e da réplica do Helder.

O post do Filipe é basicamente a apresentação das ideias principais do artigo "The Cult of Moral Grayness", de Ayn Rand, escrito em 1964. Peca por se colar demasiado ao original, mas acima de tudo por omitir algumas partes do argumento de Rand que são essenciais para enquadrar o artigo na ética objectivista. Estas partes omitidas revestem-se de especial importância tendo em conta o "cisma" que ocorreu no movimento objectivista entre os "discípulos oficiais", liderados por Leonard Peikoff e Peter Schwartz, e o outcast David Kelley, aquando da publicação dos artigos deste último "On a Question of Sanction" e "Truth and Toleration".

As ideias omitidas são:

1) Os juízos éticos ou morais só fazem sentido no contexto da escolha livre e individual. Uma pessoa sem liberdade de escolha para as suas acções não pode ser julgada. Nem a sua moralidade pode ser inferida de tendências estatísticas da comunidade em que vive.

2) Um indivíduo pode errar, com boa fé, ao formular um juízo, uma vez que não é omnisciente. Isso não constitui uma falha moral e não faz dele "cinzento".

3) Em questões complexas, é possível existirem aspectos certos e errados, verdadeiros ou falsos, no mesmo lado do argumento ou conflito. Isso não é razão para nos abstermos de julgar esses vários aspectos, um de cada vez.

4) O facto de existirem pessoas que são efectivamente "cinzentas", isto é, que agem de forma inconsistente, não é argumento para abandonar os conceitos de bem e mal. Teremos sempre de julgar esses "graus de cinzento", caso contrário colocamos o pequeno ladrão no mesmo saco que o serial killer.

As reticências dos relativistas (ou subjectivistas) no que toca à posição objectivista estão essencialmente ligadas ao receio do erro e da impotência; bem como a alguma confusão com a teoria de moral intrínsica, comum às religiões. O receio é que o julgamento conduza a demasiada intolerância. Face à falibilidade dos juízos e às limitações potenciais à liberdade dos indivíduos, preferem abster-se de julgar. Mas é preciso distiguir entre os relativistas nihilistas, para os quais não há moral e vale cada um por si, e os hedonistas, que limitam o relativismo ao princípio absoluto do respeito mútuo da liberadade individual. Estes últimos são tipicamente liberais ou libertários, e ao definirem o seu princípio absoluto estão (usando a falácia do stolen concept) na verdade a negar o relativismo.

As quatro ideias acima referidas são úteis para distinguir alguns aspectos importantes entre as teorias de valores (intrínsecos, subjectivos, objectivos). Estas observações são pela sua natureza oversimplified, a ideia não é definir exactamente cada teoria, é antes salientar os contrastes:


IntrínsecosSubjectivosObjectivos
Só escolhas livres e individuais podem ser julgadas
Várias religiões reconhecem que sem livre arbítrio não é possível julgar os indivíduos, contudo o carácter intrínseco do valores torna os juízos muitas vezes independentes de acções concretas
Os nihilistas tenderão a considerar a liberdade como outro dos valores subjectivos; os hedonistas concordarão com o princípio do livre arbítrio e da escolha individual
Acção sob coação não pode ser julgada; As escolhas morais dos indivíduos valem por si e não por estatísticas sociais
Falibilidade ou erro cognitivo
Sendo a verdade revelada, o erro não é possível - o "pecado" faz parte da natureza humana
Os erros são, na prática, irrelevantes, pois a verdade é subjectiva
A não-omnisciência não faz do indivíduo um ser imoral; apenas o erro consciente e deliberado pode ser julgado
Questões complexas
O carácter de revelação da verdade pode por vezes generalizar juízos sobre questões complexas fora dos méritos específicos das suas sub-questões
O nirvana dos subjectivistas; quanto mais difícil encontrar a verdade mas se confirma que tudo é cinzento...
A complexidade não nos deve impedir de procurar a verdade de cada parte ou sub-questão
Inconsistência dos indivíduos
Os indivíduos são por natureza imperfeitos e "pecadores"; no entanto é possível calcular a distância de cada um face à verdade revelada
A inconsistência é um prerrogativo do indivíduo; é impossível julgar a inconsistência, pois a verdade é diferente para cada um
Os valores, só por si, são objectivos mas têm de ser avaliados por pessoas, o que lhes dá alguma subjectividade, daí que possa surgir inconsistência

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16 agosto 2006

 

As Múltiplas Faces do Mal


Interessantes os mais recentes posts de Patrícia Lança no blog da Causa Liberal. Em especial este e este, que explicam várias facetas do anti-semitismo. Existem outros logo a seguir, mas já apenas servem para tentar reforçar a ideia de que a ideologia dos terroristas islâmicos é próxima do fascismo e por isso constitui um "islamofascismo".

Não concordo com esta associação. Parece-me que contribui pouco para perceber as origens to radicalismo, ou fundamentalismo, islâmico e acaba por ajudar a confundir o assunto ao misturar o fascismo na caldeirada. O mal tem várias faces, e misturá-las não serve nenhum propósito. Pelo contrário, ao tentar associar o fascismo ao radicalismo islâmico, para reforçar a ideia de que este é uma instância do mal, corre-se o risco de desculpabilizar os radicais quando se tornarem evidentes as fragilidades da associação fascismo-islamismo.

Ao longo dos últimos cem anos várias correntes totalitárias, colectivistas e iliberais devassaram o mundo e levaram a que se cometessem as mais inacreditáveis barbáries a uma escala nunca antes vista. Na sua essência, a única coisa que têm todas em comum é um total desrespeito pelos indivíduos e pela sua vida, colocando uma qualquer ideia de colectivo como valor máximo; este colectivo pode materializar-se como um estado, uma raça, uma classe, uma religião, etc. De resto, são muitos os detalhes que separam estas várias correntes. O nazismo, apesar de socialista, não é comunista. O fascismo (italiano), não tinha aspectos raciais até à aliança de conveniência com os alemães. Os tiranos terceiro-mundistas , à "esquerda" (leia-se pró-URSS) ou à "direita" (leia-se pró-EUA), eram (alguns ainda são) em alguns casos nacionalistas, noutros racistas, noutros socialistas, conforme o caso.

O radicalismo islâmico é demasiado heterógeneo para se poder definir um "islamofascismo". O Irão que se vê como porta-estandarte de uma revolução islâmica global é xiita, pelo que não pode aspirar a representar, no limite, mais de uns 10% do mundo islâmico. A Irmandade Muçulmana, fundada no Egipto, é sunita, tal como são o Hamas, os Taliban e a Al-Qaida. A desconfiança mútua entre xiitas e sunitas é demasiado grande. As matanças sectárias entre as duas partes são muito maiores em escala do que as mortes que os radicais infligiram a não-muçulmanos em ataques terroristas (mesmo incluindo o 11 de Setembro).

Aqui ficam mais algumas notas que julgo mostrarem que não faz sentido falar em "islamofascismo":

1) Os regimes fascistas preconizam uma organização corporativa das sociedades. O modelo dos radicais islâmicos é em grande medida tribal. Os seus líderes estão mais preocupados em preservar uma série de costumes sociais ultrapassados do que em reorganizar o tecido social e produtivo.

2) O fascismo está associado normalmente a características nacionais e a uma noção de estado que se confunde com a própria nação/povo, existindo também uma homogeneidade étnica. O radicalismo islâmico é um movimento sem fronteiras, tem uma base mais religiosa que política. As etnias muçulmanas são muitas e a maior, a árabe, não chega sequer a um terço do total. Talvez até se pareça mais com o comunismo, no sentido de que é internacional, almejando a conversão dos outros ao Islão.

3) A estratégia de poder do radicalismo islâmico é quase anárquica. As suas acções são puramente subversivas. Mais que estabelecer o Califado e criar um "nova ordem" (o objectivo oficial), parecem mais interessados em semear o caos. Nesse sentido, a vitória para eles não será na verdade alcançar o Califado, mas antes obrigarem o ocidente a abandonar a democracia liberal ao destruirem a confiança da população ocidental nas instituições democráticas.

O terrorismo islâmico já é mau por si mesmo. Não precisamos de lhe chamar fascista para reforçar a nossa condenação.

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09 agosto 2006

 

Os Esquecimentos de Sião


Vasco Graça Moura lembra-nos, no DN de hoje, um conjunto de factos relativos ao conflito Israelo-Árabe.

É extraordinário como se consegue, citando ou enunciando somente verdades, criar uma imagem tão falsa. Um brilhante exercício de sofisma. Sem ironia, deve ter sido um excelente advogado antes de enveredar por outros caminhos.

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Mérito por Associação


Francis Obikwelu é campeão europeu dos 100 metros. Ouvem-se os comentários do costume: "estamos todos de parabéns", "mais uma vitória do nosso atletismo", etc.

Acho piada a estes pequenos colectivismos, aos quais, confesso, não sou totalmente imune. É evidente que fico contente quando um atleta português vence, ou quando as "nossas" equipas, desta ou daquela modalidade, fazem boa figura. Não pinto a cara de verde e vermelho, mas quando os meus amigos estrangeiros me dão os parabéns por um resultado bom na selecção, é inevitável sentir uma espécie qualquer de orgulho.

Presumo que isto nos aconteça a (quase) todos. Apesar de em absolutamente nada termos contribuido para os feitos dos atletas, cujo mérito é inteiramente individual (ou apenas parcialmente colectivo no caso dos desportos em equipa).

Não estamos todos de parabéns. Quem está é Obikwelu, ainda mais por ser uma vitória individual. E o seu mérito é ainda maior face às vicissitudes por que passou, tendo chegado a Portugal um miúdo, sido rejeitado pelos clubes locais e tendo mesmo passado um periodo a trabalhar nas obras. Quanto a nós, o máximo que podemos fazer é aquecer-mo-nos na radição luminosa da sua glória.

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03 agosto 2006

 

Anacletos Infiltrados na Casa Branca


"We’re an empire now, and when we act, we create our own reality. And while you’re studying that reality – judiciously, as you will – we’ll act again, creating other new realities, which you can study too, and that’s how things will sort out. We’re history’s actors . . . and you, all of you, will be left to just study what we do."
Senior Advisor não-identificado do Presidente Bush em conversa com Ron Suskind do Wall Street Journal (via CN)

"The fundamental flaw of vulgar thought lies in the fact that it wishes to content itself with motionless imprints of a reality which consists of eternal motion. Dialectical thinking gives to concepts, by means of closer approximations, corrections, concretisation, a richness of content and flexibility; I would even say 'a succulence' which to a certain extent brings them closer to living phenomena. (...) Dialectical thinking is related to vulgar in the same way that a motion picture is related to a still photograph. The motion picture does not outlaw the still photograph but combines a series of them according to the laws of motion. Dialectics does not deny the syllogism, but teaches us to combine syllogisms in such a way as to bring our understanding closer to the eternally changing reality."
Leon Trotsky, The ABC of Materialist Dialectics

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